Os assaltantes aproveitaram a distração das tropas com o Portugal-Chile, a 28 de junho de 2017, para realizarem o furto com mais tempo.
Os assaltantes dos paióis de Tancos escolheram o dia do jogo de futebol que opôs Portugal e o Chile para a Taça das Confederações, a 28 de junho de 2017, para mais facilmente driblarem a vigilância da base militar. Enquanto a tropa assistia em peso ao desempenho da seleção nacional, João Paulino, ex-fuzileiro, e os seus cúmplices, também eles antigos militares e beneficiando de informação privilegiada do interior da base – nomeadamente, o facto de o sistema de videovigilância não funcionar –, cortaram a vedação do edifício do Exército, pularam a cerca e arrombaram dois paiolins.
Segundo fonte da Polícia Judiciária, o material furtado foi depois transportado em carros do grupo até uma propriedade da avó de João Paulino, situada a 35 quilómetros de Tancos. De maneira a conseguirem levar todas as armas – entre elas mais de uma centena de granadas de mão ofensivas, 44 lança-granadas-foguetes descartáveis M72 LAW, 18 granadas de gás lacrimogéneo e 1450 cartuchos de munição de nove milímetros –, tiveram de fazer várias viagens. Conduziram primeiro pela estrada de terra batida junto às instalações militares e seguiram, depois, pela estrada municipal que liga à A23.
João Paulino, ex-militar que já tinha currículo no mundo do tráfico de armas e de estupefacientes, tinha como ‘base’ um bar no distrito de Leiria, onde mantinha contactos regulares com elementos das forças de segurança e militares. Terá sido neste espaço noturno que travou relações com um elemento de Tancos, que o colocou a par dos hábitos e das rotinas da base e o ajudou a marcar o dia e a hora que seriam mais favoráveis ao furto, em que oficiais e a tropa ‘baixassem a guarda’ em nome de um valor mais alto – neste caso, os jogos da seleção nacional abrilhantados por Cristiano Ronaldo. E tiveram alguma sorte: o jogo do dia 28 de junho, com início às 18h00, estendeu-se mais do que o previsto. As duas equipas foram para prolongamento e a partida acabou com penáltis. Com isto, o grupo de assaltantes ganhou ainda mais tempo e pôde retirar-se do local sem quaisquer sobressaltos. O azar caiu na equipa portuguesa, que perdeu por uma diferença de três golos, e também no Exército, que se deixou roubar.
Mais detenções na calha
Logo no dia a seguir ao assalto, a 29 de junho de 2017, o furto era mencionado na habitual reunião mensal de segurança realizada no Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA). E, uma hora e meia depois do início do encontro – onde estavam presentes elementos das ‘secretas’, da GNR, da PSP e do Centro de Segurança Militar e de Informações do Exército (CSMIE) –, o Exército divulgava o comunicado sobre o assalto, que dava conta do «desaparecimento de material de guerra, especificamente granadas de mão ofensivas e munições de calibre de nove milímetros» dos Paióis Nacionais de Tancos.
Três dias mais tarde, o jornal espanhol online El Confidencial publicava a lista completa das armas furtadas – que, em conjunto, pesariam qualquer coisa como 300 quilos.
O lado de ‘ópera bufa’ do furto não ficou por aqui. Sabe-se hoje que bandidos e militares, para resolverem o caso, acabaram por se unir para que as armas voltassem de novo para o local de onde tinham sido furtadas.
A Polícia Judiciária terá sido a única a levar o caso a sério: as detenções começaram na semana passada e ainda vão no átrio – está para haver mais detidos. Segundo adiantaram ao SOL fontes ligadas à investigação, falta ainda deter outros elementos do grupo, bem como os «autores morais» do furto.