1.O Ministro Azeredo Lopes (mais rigorosamente, atendendo à incompetência crónica da personagem, o “Azerelho” Lopes) assumiu as suas responsabilidades – e demitiu-se.
Tal decisão não apaga, nem faz esquecer, a sua ilimitada falta de sentido político e competência para o cargo tão relevante para a nossa República como é o de Ministro da Defesa; contudo, a demissão permitiu a Azeredo Lopes ter um derradeiro (e primeiro?) acto de dignidade política.
Ficou-lhe, pois muito bem: conforme escrevemos na edição da última terça-feira do jornal “i”, a continuidade do Ministro da Defesa no Governo iria erodir gravemente o prestígio, interno e externo, das Forças Armadas pátrias. Azeredo Lopes permitiu que Portugal se tornasse em motivo de chacota cimeiro nos corredores diplomáticos internacionais – o que consubstancia, para além de tudo o mais, uma afronta inominável para os militares que elevam a gloriosa bandeira Portuguesa por diversas latitudes e longitudes.
2.Azeredo Lopes já garantiu, por certo, a sua assinatura num dos episódios mais degradantes da democracia portuguesa: o caso de Tancos será sempre, independentemente do que viermos a saber nas próximas semanas/meses, um símbolo do caos e do pântano em que se converteu a administração pública portuguesa sob a égide da “geringonça”, liderada pelo PS de António Costa.
E não subsiste qualquer dúvida de que ainda saberemos muitos factos desconcertantes – e deveras preocupantes sobre a cultura de irresponsabilidade que o PS de António Costa promove na administração pública em todos os níveis, desde a educação à saúde, passando pelas pastas centrais da autoridade do Estado como são a Defesa e a Administração Interna.
É, inclusive, muito interessante constatar que Azeredo Lopes, indubitavelmente o Ministro mais incompetente do Governo (o que, face à incompetência geral do executivo geringonçado, é um estatuto difícil de obter) revelou mais dignidade e sentido de Estado na hora da saída do que o próprio António Costa.
De facto, enquanto Azeredo Lopes reconheceu que a sua continuidade colocaria em causa o prestígio e a dignidade das Forças Armadas pátrias, António Costa, diferentemente, continua a negar a evidência, mantendo a sua tese de que nada de grave sucedeu! Que o episódio de Tancos é uma “fake news” da luta político-partidária: senão, como compreender que António Costa tenha afirmado que só aceitou a demissão do Ministro para proteger a sua honra e seriedade? António Costa está a brincar com os portugueses? A saída é para proteger a honra do Ministro?
Isto é, a um tempo, inacreditável e altamente preocupante: temos um Primeiro-Ministro que não tem a mínima noção da realidade, vivendo num país alternativo.
Num país absolutamente “costacêntrico” : o mundo gira à volta dos interesses, das conveniências e das necessidades de António Costa. Se Portugal tiver que cair, se os portugueses tiverem de sofrer novamente como sofreram na ressaca do socratismo – então que sofram, desde que os projectos de poder pessoal e ambição desmedida de António Costa se cumpram.
3.Basta aqui evocar que há poucos dias, o Primeiro-Ministro assegurava que Azeredo Lopes era um activo do Governo – e que não sairia.
Ontem, ficámos, no entanto, a saber que alguns Ministros exigiam já (também, portanto não se tratava, como nunca se tratou, apenas de uma exigência da oposição) a demissão do responsável pela pasta da Defesa.
Quem foram esses Ministros? Precisamente, a (já residual) ala moderada do PS, que ainda tem alguma noção dos ditames de responsabilidade e sentido de Estado: Augusto Santos Silva, Eduardo Cabrita e, mais timidamente, Mário Centeno (que já só pensa na sua vida futura em Bruxelas e como poderá um dia chegar a Presidente da Comissão Europeia).
Pedro Nuno Santos, por seu lado, também se pronunciou junto de António Costa no sentido da demissão de Azeredo Lopes…com uma motivação diversa: não desagradar ao Bloco de Esquerda. Como todos sabemos, Pedro Nuno Santos é o Ministro de facto do Bloco – ele sente-se como um bloquista e os bloquistas sentem-no como um deles!
4.Posto isto, cumpre formular a questão essencial: alguém acredita que António Costa desconhecia o memorando que apontava para o encobrimento? Alguém acredita que Azeredo Lopes não foi falando com António Costa sobre estas insólitas (e gravíssimas!) incidências do caso Tancos?
Haverá algum português que acredite em tal conto do vigário?
De certeza que António Costa sabe mais do que diz – pelo menos, sabe tanto quanto sabia Azeredo!
Portanto, se Azeredo for chamado a prestar esclarecimentos perante a justiça portuguesa, as autoridades terão que apurar igualmente o que sabe António Costa sobre o sucedido designadamente da operação de encobrimento.
É altamente improvável – reiteramos! – que um Ministro com tão pouco peso político como era Azeredo Lopes não tenha colocado António Costa ao corrente de tudo (mesmo tudo!) o que se passava…
Conclusão: António Costa é o Primeiro-Ministro responsável pelos episódios mais lamentáveis que a nossa democracia já conheceu (em menos de quatro anos da sua liderança política!), debilitando a autoridade do Estado.
Primeiro, os trágicos e fatais incêndios de 2017, que expuseram a falta de organização e de planeamento do Ministério da Administração Interna do Governo de Costa; segundo, o caso Tacos, que se prolonga e já se tornou numa tragicomédia, que envergonha o Estado português.
E não se pense que na saúde, na educação, na Cultura, a situação esteja muito melhor: basta pensar na desorganização e no caos em que se encontram os hospitais…
5.Como sempre, António Costa tentou utilizar o seu truque preferido: a manobra de diversão.
Isto é, para tentar desviar as atenções dos portugueses, o Primeiro-Ministro pediu a Azeredo para se demitir na sexta-feira. Porquê?
Porque para esse dia, o Presidente já tinha anunciado a tomada de posse de Lucília Gago e já se prenunciava a decisão da Moody’s – logo, a demissão de Azeredo passaria despercebida, mitigando os efeitos negativos para a imagem do Governo.
É Costa no seu melhor: a utilização abusiva de truques de propaganda, de comunicação mediática para esconder a incompetência do Governo. Para António Costa, a política resume-se a um mero jogo de poder e de controlo mediático da sua imagem. Nada mais…
6.Se Azeredo Lopes se demitiu, merecendo tal decisão a concordância de todos atendendo à gravidade dos factos – não deveremos também exigir a António Costa (que sabe, pelo menos, tanto quanto Azeredo) que assuma as suas responsabilidades?
E o Presidente Marcelo, enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas, não repreenderá António Costa por ter lançado o Exército português para um verdadeiro pântano, motivo de chacota internacional? Aguardemos…
Uma coisa é certa: António Costa é um Primeiro-Ministro cuja credibilidade está ferida de morte.
Depois disto, e após jurar que Azeredo Lopes era um “activo valioso do Governo”, quem poderá levar António Costa a sério?
P.S – Isto já para não acrescentar o momento verdadeiramente ridículo (diríamos mesmo patético) em que António Costa tentou justificar o roubo de Tancos com o “desinvestimento do Governo anterior nas câmaras de vigilância”! Nem os Gato Fedorento se lembrariam desta…Já ontem, Ana Catarina Mendes, porta-voz do PS, veio, em pose serena e majestática, afirmar que “não podemos partidarizar as Forças Armadas”! Mais uma vez, o PS muda de critério conforme as conveniências…Ontem, podia-se partidarizar as Forças Armadas; hoje, porque é prejudicial para o PS, já não se pode…