As pessoas ainda identificam o CDS com a política de austeridade?
As pessoas continuam, muitas vezes, a tratar-me por ministra. Fazem-no de uma forma carinhosa e simpática. A perceção que eu tenho na rua é muito positiva. Não é habitual ouvir críticas ao CDS por ter estado no anterior Governo.
O PSD ficou mais conotado com a austeridade?
Não sei. Nós não fugimos às nossas responsabilidades e tivemos juntos no mesmo Governo, embora eu ache que as pessoas têm a perceção de que havia algumas tensões.
O CDS já anunciou que vai votar contra o Orçamento do Estado. Não precisou de o conhecer para saber que vai votar contra…
Este é um orçamento de continuidade. Na nossa perspetiva estamos a perder tempo. Este podia ser um tempo de recuperação para o país e um tempo de sólido crescimento económico. Desde o primeiro orçamento que apresentamos a nossa visão alternativa de forma muito consistente. Certamente que o nosso orçamento seria muito diferente. O primeiro-ministro preocupa-se primeiro com a sua sobrevivência política e do seu Governo e a seguir preocupa-se vagamente com o país.
Qual seria a grande diferença entre um orçamento do CDS e o orçamento de António Costa?
É muito importante que o país possa ter uma estratégia de médio e longo prazo e este Governo tem uma estratégia do imediato. Vai olhando muito para determinados nichos e determinadas áreas da governação e esquece o resto do país. Esquece que sem a criação sustentada de riqueza, com uma permanência no tempo não temos como acomodar muitas necessidades. O país está a crescer, mas está a crescer bem menos do que aquilo que poderia crescer e muito menos do que os países europeus com os quais nos devemos comparar porque têm uma dimensão semelhante à nossa.
Qual é a razão de não estarmos a crescer mais?
Não estamos a dar os estímulos necessários para que isso aconteça. Na fiscalidade, por exemplo, havia um compromisso para ir baixando o IRC, mas não se baixou. Só França é que está à nossa frente em taxa de IRC. Isso seria muito importante para que houvesse mais investimento.
O governo vai dar aumentos aos funcionários públicos e durante estes quatro anos acabou com algumas medidas de austeridade que afetavam diretamente as pessoas. Não é difícil tentar demonstrar à população que este Governo não está a fazer o melhor para elas?
O Governo vende melhor o que dá do que aquilo que efetivamente dá. Vai repetindo que as coisas estão todas muito bem e que está a repor muitos rendimentos, mas, no final do mês, com tudo aquilo que as pessoas pagam de forma indireta, não estarão assim tão bem.
As pessoas têm uma perceção diferente.
É verdade que há uma certa narrativa de um país cor-de-rosa e, após um período de austeridade, as pessoas sentem um certo alívio. Não é fácil explicar que poderíamos estar bem melhor do que estamos neste momento.
Os funcionários públicos não são aumentados desde 2009. Não concorda que os seus salários sejam agora atualizados?
Já o disse e vou repetir, porque é uma questão muito importante, a existir alguma folga eu preferia que essa folga fosse utilizada para ir baixando gradualmente os impostos para todas as pessoas. Funcionários públicos e não funcionários públicos. Essa dita folga pode ser aplicada numa redução faseada do IRS. Não me parece razoável que se esteja a olhar apenas para os funcionários públicos.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, disse esta semana que a direita percebe pouco do que é o funcionamento de uma empresa…
É de uma grande arrogância, mas surge muito na linha da governação socialista. Também me recordo do tempo em que José Sócrates dizia que ele era o líder que a direita gostaria de ter. A verdade é que este governo não puxa pela economia como deveria puxar. Segue a onda. António Costa deixa-se levar pela onda das coisas boas e remove da sua frente tudo o que são coisas más.
A relação com o PSD está mais fria? Às vezes parece que Rui Rio está mais interessado em falar com António Costa do que com o CDS.
Isso tem de perguntar ao PSD. Quando Rui Rio chegou à liderança reuniu primeiro com António Costa e achou isso mais importante do que reunir com o CDS. Foi uma escolha que fez e de alguma forma essa opção deixou uma marca. Nós temos tido um relacionamento normal com o PSD.
Normal, mas distante…
Cada partido trabalha por si para que um dia o ciclo possa mudar e possa haver de novo um espaço para o centro-direita governar em Portugal. O ano de 2015 quebrou a lógica tradicional e aquela ideia de que é preciso ficar em primeiro lugar para se poder governar. Nós temos um primeiro-ministro que perdeu as eleições, mas que conseguiu ter uma maioria à esquerda. Isso quer dizer que para o CDS há toda uma nova possibilidade no futuro. É preciso explicar às pessoas que um voto no CDS não é um voto perdido. Nós podemos não ficar em primeiro lugar, mas ficar em segundo ou em terceiro e ainda assim haver uma possibilidade do centro-direita governar. Estamos a trabalhar para ser a primeira escolha.
Acredita mesmo que pode ganhar as eleições?
Às vezes as pessoas riem-se e dizem que é ambição a mais, mas nós temos essa ambição. Os impossíveis terminaram. O que lhe posso garantir é que um voto no CDS não viabilizará nunca um Governo de António Costa e somos o único partido que dá essa garantia. Faremos tudo para vencer em 2019. Se isso não acontecer, continuaremos a estar na oposição. Faremos sempre uma oposição construtiva aos governos das esquerdas. Das esquerdas ou do Bloco Central.
Acha que Rui Rio pode aliar-se a António Costa a seguir às próximas legislativas?
O que lhe posso dizer é que fui a única líder partidária que já disse categoricamente que um voto no CDS não vai viabilizar um Governo de António Costa.
Gostava que o PSD fosse mais claro sobre isso?
Cada um tem a sua estratégia.
Mas tem alguma desconfiança que o PSD possa estar empenhado num Governo do bloco central?
Rui Rio já disse publicamente que se sente como um homem mais à esquerda e também já disse que quer libertar o Partido Socialista do PCP e do Bloco de Esquerda. Essa é a estratégia de Rui Rio. A estratégia do CDS é muito diferente e pretende construir uma alternativa. Nós sabemos onde estão os amigos e onde estão os adversários. Os nossos adversários são António Costa e as esquerdas unidas e é isso que nós queremos combater.
E o PSD é um amigo?
O PSD é um amigo e parceiro. Olhando para o passado, o presente e o futuro, vemos o PSD como um partido amigo e eventual parceiro numa governação. De resto, estivemos 12 anos na Câmara do Porto com o PSD e as coisas correram bem. A nossa estratégia é muito clara. Não tem ziguezagues.
Tem falado com o líder do PSD?
Pouco, mas também falava pouco com Passos Coelho.
Está completamente fora de questão uma coligação pré-eleitoral com o PSD?
Absolutamente fora de questão. Não faz sentido.
O partido de Santana Lopes também pode vir a ser um partido amigo do CDS?
Nós ainda não conhecemos as propostas da Aliança, mas a Aliança veio para se afirmar no espaço político de centro-direita. Nesse sentido, com certeza que não está do lado dos adversários, mas sim do lado dos partidos amigos, com quem pode um dia haver um entendimento.
Tem medo de perder eleitorado para estas novas realidades de centro-direita?
Nós temos de ter sobretudo convicção e estratégia, porque as pessoas compreendem quando as coisas são genuínas e quando são de circunstância. No CDS, procuramos trilhar um caminho de seriedade, profundidade, consistência e sentido de futuro e é por isso que identificámos as questões estruturais para o país: demografia, coesão territorial e nova economia e era digital. São os três grandes pilares da nossa ação que depois se cruzam em múltiplos domínios.
Tem recusado fazer previsões sobre o resultado do CDS nas legislativas…
É verdade e continuo a recusar. Não o vou fazer, porque o nosso objetivo é muito ambicioso. O nosso objetivo é crescer o máximo que pudermos. É caminharmos para nos afirmarmos cada vez mais como uma verdadeira alternativa de governação que as pessoas sintam que um dia pode ser uma alternativa cimeira. Nós um dia podemos liderar um Governo.
Mas nas sondagens o CDS tem cerca de 10%.
Isso, para o CDS, para aquilo que as sondagens costumam dar, já é muitíssimo. Nós no CDS temos um kit de entrada no partido que é uma vacina antissondagem. Não acreditamos nas sondagens, porque nunca revelam aquilo que o CDS tem. Recordo que em 2009, nas eleições europeias, uma semana antes as sondagens davam ao CDS zero eurodeputados e elegemos dois.
O CDS continua a ser um partido muito centrado no líder e que depende muito do estilo da liderança…
Não concordo. Acho que se olharmos para o nosso grupo parlamentar e para as pessoas do núcleo central do CDS conseguimos encontrar várias pessoas com espaço, notoriedade, reconhecimento e capacidade própria. Posso falar do Nuno Melo, da Cecília Meireles, do Adolfo Mesquita Nunes, do Luís Pedro Mota Soares, do João Almeida… São alguns exemplos de pessoas que têm comigo feito parte desta equipa que mobiliza muitos outros e que traz muitos independentes. No gabinete de estudos do CDS, lidera o grupo da saúde o professor António Ferreira, que é um independente, no grupo da reforma para a Justiça o professor Rui Medeiros, e na área do território o professor Carmona Rodrigues.
Já tem pessoas suficientes para formar um Governo…
Temos Governo. Se nós hoje formos a eleições e o CDS estiver em condições de formar Governo, eu garanto que arranjo ministras e ministros de primeira para todas as pastas.
Voltando às legislativas. As sondagens dão vitória ao PS sem maioria absoluta. Tem alguma perceção do que pode acontecer nas próximas eleições em 2019?
O desafio maior do centro-direita – apesar de eu falar apenas pelo CDS – é mostrar que há uma alternativa e que António Costa não é uma inevitabilidade. Não sei se isso vai já acontecer em 2019. Mas, farei tudo o que estiver ao meu alcance para que isso aconteça, porque acho que António Costa faz mal ao país. É um país adiado.
Não acredita que esta solução de Governo possa durar mais quatro anos?
Tudo faremos para que haja uma alternativa de centro-direita em Portugal. Com uma outra visão para o país, para o crescimento económico e para a melhoria sustentável e duradoura da vida das pessoas. E, portanto, é isso que eu farei nas próximas eleições. Tudo o resto ver-se-á no dia a seguir.
Estamos aqui no seu gabinete da Câmara de Lisboa. Como é desempenhar esse papel na vereação?
Com muito esforço pessoal, com muita ginástica, mas também com o sentido de estar a cumprir o meu dever e o meu compromisso para com os lisboetas. É um esforço grande, mas também na câmara temos uma equipa forte e eu procuro estar em todos os momentos.
Conseguiu um bom resultado nas eleições autárquicas. OCDS ficou à frente do PSD. Poderá voltar a candidatar-se à Câmara de Lisboa?
Eu sou vereadora por quatro anos e por quatro anos farei o meu trabalho intensamente. Quando chegar à altura, logo se tomará uma decisão. É muito cedo para estarmos a falar nisso. Não está no meu horizonte de pensamento. O meu horizonte agora é trabalhar intensamente como vereadora e aproveitar o facto de ser deputada para ajudar nas questões de Lisboa.