A censura continua a ser o principal motivo apresentado por João Ribas para a demissão do cargo de diretor artístico do Museu de Serralves no Porto um dia depois da inauguração da exposição do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação e Desporto na sequência dos requerimentos apresentados pelos grupos parlamentares do PS e do Bloco de Esquerda.
O tema da audição foi a demissão no final do mês de setembro e o foco esteve em torno da proibição da entrada de menores de 18 anos numa parte da exposição por conter obras com conteúdo sexual.
"Demiti-me porque não podia tolerar censura no Museu de Serralves", começou por explicar Ribas em resposta ao deputado do Bloco de Esquerda, Jorge Campos. Na mesma resposta, o presidente demissionário afirmou que não se demitiu no dia da exposição porque teve "sentido de responsabilidade, tentei contornar, mas não compactuar".
Durante um ano e meio, Ribas e o conselho de administração trabalharam juntos na exposição, mas na semana de montagem "houve algumas interferências". Segundo o antigo presidente, a primeira exigência prendia-se com a construção de um muro por forma a dividir a sala, no dia seguinte foi obrigado a refazer a oartes da exposição e no dia seguinte, os responsáveis da Fundação Mapplethorpe falaram em cancelamento.
No dia da exposição, segundo conta, foi pedido que retirasse duas das obras que estavam expostas quando faltava apenas uma hora para a conferência com os jornalistas. O pedido foi executado, mas as razões foram "aleatórias", confessando o antigo presidente que "nunca as percebi".
Para Ribas, a proibição de duas obras configura um caso de censura
“Em bom latim censura é condenação ou reprovação de certas obras artísticas. Neste caso houve reprovação de duas obras, retiradas uma hora antes da conferência de imprensa e que não foi permitido serem expostas. São obras que não se permitiu que pudessem ser vistas pelo público — considero isso censura”
Em conversa esteve também o 'timming' do despedimento, uma vez que João Ribas abandonou o cargo um dia depois da inauguração, uma vez que dado os acontecimentos este podia ter deixado o cargo mais cedo, mas não o fez para evitar "um mal maior".
A sala interdita a menores de 18 anos, algo que destaca como "inédito", e a devida sinalética foi outro dos temas de conversa e pontos que levaram à decisão do ex-curador. João Ribas diz que, por parte do museu, há o dever de informar, mas também o de dar o direito às pessoas de escolher se querem ou não ver determinada obra, uma vez que há "conteúdos adequados a adultos ou menores de 18 anos acompanhado por um adulto".
Para o antigo diretor, confrontado com as questões levantadas por Teresa Caeiro, deputada do CDS-PP, que afirmou não ver "nenhuma ato de censura", há uma diferença entre a sinalética que recomenda ou alerta para o tipo de obras e a proibição total por pessoas de uma faixa etária.