“Não vale tudo”. Defesa de ex-porta-voz da PJM admite erros na recuperação das armas

Advogado Ricardo Sá Fernandes disse hoje à saída do DCIAP, onde Vasco Brazão foi prestar declarações no caso Tancos, que a única estratégia é contar a verdade à Justiça

O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM), Vasco Brazão, entregou hoje no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) uma cópia do memorando entregue no Ministério da Defesa relativo à operação de recuperação das armas roubadas em Tancos. A investigação da PJ civil acredita que o achamento do material na Chamusca foi uma farsa, com o objetivo de encobrir o principal responsável pelo roubo das armas.

Após a recuperação das armas, em novembro de 2017, e numa altura em que o diretor da PJM já sabia estar a ser investigado, foi entregue por Vasco Brazão e pelo diretor da PJM ao chefe de gabinete do então ministro da Defesa, Azeredo Lopes, um memorando em que se admitia que a chamada anónima em que se denunciava a localização das armas tinha sido fabricada, ou seja, feita por um elemento da própria PJM. E quem a recebeu naquele piquete de madrugada fora Vasco Brazão.

À saída do DCIAP, o advogado Ricardo Sá Fernandes, que defende Brazão, deixou claro que o memorando hoje entregue bate certo com a versão entregue pelo ex-secretário de Estado, general Martins Pereira.

“Relativamente ao general Martins Pereira, a quem pedi para honrar a verdade, o que posso dizer é que o general Martins Pereira honrou a verdade”, disse Sá Fernandes, reforçando: “Demonstrou-se que só há um memorando e isso só honra o general Martins Pereira, quando se calhar seria mais fácil não o ter feito”.

Quanto a Vasco Brazão, a defesa admite que a operação de recuperação de armas teve vários erros e que só resta ao arguido admiti-los e colaborar com a investigação agora em curso.

Verdade é a única estratégia “Aquilo que pode atenuar a culpa do major Vasco Brazão é contar a verdade. Não é um delinquente, não ganhou dinheiro por fazer o que fez, nem ele nem os outros. O major Vasco Brazão fez o que não devia ter feito pelo facto de ter posto a descoberta das armas e o prestígio da PJM à frente de tudo. Fizeram isto com boas intenções, mas não deviam ter feito porque não vale tudo [numa investigação]”.

E o tudo foi desenvolver uma investigação paralela à da Polícia Judiciária civil prometendo a um ex-fuzileiro que sabia do paradeiro das armas o seu encobrimento – este homem é um dos nove arguidos, suspeito de ser o principal responsável pelo roubo das armas.

Sá Fernandes recusou esta tarde que exista uma estratégia da defesa que não seja a de contar a verdade à Justiça e adianta que tudo o que foi dito ontem confirma a versão apresentada logo no dia em que Vasco Brazão chegou da República Centro-Africana.

A defesa de Vasco Brazão não confirma para já em público se o ministro Azeredo Lopes teve ou não conhecimento do memorando entregue, mas diz ver como normal que o MP chame o antigo governante para prestar declarações.

No âmbito da chamada Operação Húbris, será ouvido na próxima terça-feira o ex-diretor da PJM, que está atualmente detido no estabelecimento prisional militar de Tomar.