Várias empresas brasileiras estão a financiar ilegalmente pacotes de mensagens de WhatsApp, a rede social mais popular do Brasil, contra o Partido dos Trabalhadores e o candidato Fernando Haddad e a favor de Jair Bolsonaro. A prática está vedada pela lei eleitoral brasileira por pressupor doação de campanha por empresas e, ainda por cima, trata-se de financiamento não declarado.
A notícia foi avançada pela “Folha de São Paulo”, referindo que cada contrato chega a custar 12 milhões de reais (2,8 milhões de euros). As empresas compram um serviço chamado “disparo em massa” para a base de utilizadores proporcionada pelos serviços de campanha do candidato ou por bases de dados vendidas por agências de estratégia digital. Os preços de cada mensagem variam entre 0,08 (0,02 euros) e 0,12 reais (0,03 euros), quando base de utilizadores é fornecida pelo candidato, e 0,30 (0,07 euros) e 0,40 reais (0,09) quando a base é da agência.
Um dos empresários envolvidos, Luciano Hang, dono da Havan, afirmou que nem sabe o que são disparos em massa, nem precisa de pagar para fazer passar a mensagem de apoio a Bolsonaro: “Não temos essa necessidade. Fiz um live aqui agora, não está impulsionada e já deu 1,3 milhões de pessoas. Qual a necessidade de impulsionar?”, respondeu à “Folha”.
Hang já foi condenado em agosto pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a uma multa de dez mil reais (2300 euros) exatamente por contratar irregularmente o mesmo tipo de serviço, de “disparo em massa” de mensagens de propaganda eleitoral no Facebook. A sentença não puniu nem Bolsonaro, nem o Facebook no caso.
O mesmo Hang respondeu através das redes sociais com aquela que costuma ser a resposta habitual dos apoiantes de Bolsonaro (e do próprio candidato) sempre que uma notícia negativa surge nos média tradicionais, chamou-lhe fake news. “Isto aqui é o verdadeiro fake news, pessoal”, disse.
Carlos Bolsonaro, um dos filhos de Jair Bolsonaro, desqualificou a notícia, incluindo-a no conjunto das “meias verdades ou mentiras descontextualizadas” sobre o seu pai e atribuiu-a ao “desespero” da imprensa porque “vão perder a boquinha que o partido mais corrupto do Brasil banco ao longo de seu tempo no poder”.
Fernando Haddad, o candidato do PT e adversário de Bolsonaro na segunda volta das eleições, que se disputam a 28 de outubro, referiu que “estamos diante de uma tentativa de fraude eleitoral”. Haddad falava num encontro com juristas que decidiram lançar um movimento contra a compra de disparos em massa. “Estamos diante de uma tentativa de fraude eleitoral. O pressuposto dessa campanha foi liquidar a eleição em primeiro turno para que as notícias de hoje não viessem à tona”, referiu o candidato.
No seu Twitter, Haddad escreveu: “O que queremos é a apuração dos crimes denunciados. O montante de recursos e o número de empresários envolvidos nesse complô é muito grande. Temos a informação de que 156 empresários estão envolvidos nisso. As pessoas vão ser chamadas a depor. Ele deixou rastro e nós vamos atrás”.
Por seu lado, Carlos Lupi, presidente do PDT, cujo candidato (Ciro Gomes) ficou em terceiro lugar na primeira volta das eleições, diz que o partido vai apresentar queixa no TSE por “suspeita de fraude”. Os advogados ainda analisam se vão pedir a nulidade dos resultados ou o cancelamento da eleição, mas o processo esse vai mesmo avançar porque se trata de “uma ilegalidade grave que pode ter influenciado o processo eleitoral”.
Na sua página de Facebook, Jair Bolsonaro admitiu indiretamente a existência do caso ao escrever “apoio voluntário é algo que o PT desconhece e não aceita”, acrescentando que “o PT não está sendo prejudicado por fake news, mas pela VERDADE”.