João Galamba, novo secretário de Estado da Energia; Luís Goes Pinheiro, o novo secretário de Estado da Modernização Administrativa; e João Correia Neves, novo secretário de Estado da Economia são alguns exemplos de pessoas próximas do principal arguido da Operação Marquês.
João Galamba avisou Sócrates que ia ser detido
João Galamba, conotado com a ala mais à esquerda do PS e novo secretário de Estado da Energia, foi apanhado em escutas da Operação Marquês a avisar José Sócrates que a Justiça o tinha na mira. Dias antes da detenção do ex-primeiro-ministro no aeroporto de Lisboa, em outubro de 2014, Galamba encaminhou uma sms a Sócrates, que tinha recebido de uma pessoa próxima do Governo de Passos Coelho, do CDS, a pedir-lhe para avisar Sócrates que algo ia acontecer. «Fala com o JS. Há sururus de que vai ser feito qualquer coisa contra ele muito rapidamente. Se souber algo mais aviso». A troca de sms continuou com Sócrates a pedir mais detalhes para saber se fonte era fidedigna. Galamba respondeu: «Não sei o que é, mas vai ter exploração mediática. E certamente que não surge agora por acaso. É suposto acontecer esta semana, embora já não falte muito. Se calhar esperam por sexta para não dar margem de reação». E 13 dias depois, a 23 de novembro de 2014, Sócrates foi detido.
Este ano, Galamba disse que o caso de Sócrates «envergonha qualquer socialista» e que o partido «está muito incomodado» com as acusações do MP. Declarações que foram feitas depois de virem a público informações que Manuel Pinho, ex-ministro da Economia de Sócrates, recebia verbas mensais do BES para tomar decisões na EDP que favoreciam o banco que era acionista da elétrica.
João Galamba nasceu em Lisboa, a 4 de agosto de 1976. É licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, tendo concluído a parte letiva do Doutoramento em Ciência Política na London School of Economics e deu aulas de Filosofia Política no departamento de Government. Trabalhou no Banco Santander, na consultora DiamondCluster International e na Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados da Comissão Europeia. Era deputado do PS desde 2009.
Goes Pinheiro nas escutas dos Vistos Gold
Luís Goes Pinheiro, o novo secretário de Estado da Modernização Administrativa, assumiu funções nos dois governos de José Sócrates: entre 2009 e 2011 foi chefe de gabinete da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Maria Manuela Leitão Marques, e entre 2005 e 2008 foi adjunto do secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira. No Governo de Costa, Goes Pinheiro já tinha assumido funções como chefe de gabinete do secretário de Estado do Conselho de Ministros, Tiago Antunes, mas foi exonerado no inicio de 2016 depois de terem sido publicadas notícias a dar conta que tinha sido apanhado em escutas da PJ no início de 2014, enquanto decorria a investigação do caso dos Vistos Gold.
As escutas indiciam que terá sido beneficiado no recrutamento de um concurso para o cargo de vice-presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN). Durante o processo de recrutamento para o cargo, Goes Pinheiro – militante do PS – recebeu orientações de um elemento do júri da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (Cresap) para melhorar a sua prestação nas entrevistas de seleção. As dicas foram-lhe transmitidas por Maria Antónia Anes, arguida no processo dos vistos Gold e amiga da ex-ministra da Justiça, com quem trabalhava. Mas quando Maria Antónia Anes deu indicações a Goes Pinheiro estava a seguir ordens de António Figueiredo, que era na altura, o presidente do IRN e que hoje é um dos principais arguidos do processo dos Vistos Gold.
Luís Goes Pinheiro, nasceu em 1975 no Porto, é licenciado em Direito e tem uma pós-graduação em Direito Penal Económico e Europeu, pela Universidade de Coimbra. Atualmente exercia funções de secretário-geral Adjunto na Administração Interna, tendo a seu cargo a gestão do processo eleitoral. Há meses deixou as funções de secretário-geral da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução.
Correia Neves foi chefe de gabinete de Pinho
Outro dos novos governantes com ligações aos governos de José Sócrates é João Correia Neves. O agora secretário de Estado da Economia foi chefe de gabinete de Manuel Pinho que, entre 12 de março de 2005 a 6 de julho de 2009, assumiu a pasta da Economia e da Inovação. Ou seja, o novo secretário de Estado teve funções como chefe de gabinete durante o período em que o ex-ministro Manuel Pinho terá recebido luvas do BES para que, na altura, tomasse decisões que beneficiassem a EDP, da qual o BES era acionista. O caso ainda está a ser investigado pelo Ministério Público e a 3 de julho de 2017, Manuel Pinho chegou a ser constituído arguido mas, em maio de 2018, o juiz de instrução criminal Ivo Rosa declarou «sem efeito» a constituição como arguido do ex-ministro da Economia por causa de «irregularidades» nos «cuidados formais» do processo.
As decisões de Manuel Pinho terão garantido à EDP pagamentos na ordem de 2,5 milhões de euros, desde 2007. Documentos revelaram que o ex-ministro terá recebido um total de 2,1 milhões de euros do saco azul do GES, com verbas que foram pagas entre 2002 e 2014. A grande fatia deste valor, 1,8 milhões de euros, terá sido paga do saco azul do GES durante uma década, entre 2002 e 2012, através de transferências mensais fixas de cerca de 15 mil euros. E, deste valor, 795 mil euros terão sido pagos enquanto Pinho esteve em funções no Governo, entre 2005 e 2009.
João Correia Neves é licenciado em Economia e mestre em Administração Pública pelo ISCTE e desde 2007 que era membro do conselho diretivo do IAPMEI.