O ódio continua a dominar a política norte-americana e poderá dar um empurrão aos candidatos do Partido Democrata que concorrem nas eleições intercalares de 6 de novembro. É a conclusão da mais recente sondagem encomendada pela Reuters/Ipsos, com mais de 21 mil pessoas entrevistadas, com os democratas inquirinos a expressarem uma média de 7,6 (numa escala de 1 a 10, com esta a ser de extrema raiva) em relação à administração Trump.
A raiva é motivada por políticas como a de se separarem famílias que tentam entrar sem documentos nos Estados Unidos, a interferência russa nas presidenciais de 2016 e a reacção do executivo ao escândalo e a própria prestação de Donald Trump, com declarações polémicas a serem proferidas quase diariamente.
Para Eden Stramer, democrata de 23 anos do Dakota do Norte, a simples possibilidade de o aborto vir a ser considerado ilegal nos Estados Unidos deixa-a em nervos. E de Pattie Blair, democrata com 74 anos, que não consegue esconder a raiva sempre que vê o presidente Trump na televisão. "É o lugar mais negativo, mais negro, onde uma pessoa pode estar", disse Blair, citada pela Reuters.
Se em 2016 a raiva estava do lado dos republicanos contra o antigo presidente Barack Obama e a candidata democrata, Hillary Clinton, em 2018 a situação parece ter-se invertido. "Foi o que aconteceu em 2016", disse Nicholas Valentino, especialista em comportamento eleitoral da Universidade de Michigan. "Imensas pessoas que estavam a pensar ficar em casa estavam zangadas com a [candidata presidencial] Hillary Clinton e os democratas e apareceram [nas urnas] para surpresa de todos".
E, segundo os registos de sondagens que datam até 1980, os norte-americanos estão mais zangados do que nas eleições anteriores. "Estamos a aprender formas mais eficientes de nos odiarmos mais rapidamente e isso decepciona-me", disse Brian Carson, de 46 anos. O termo "guerra civil" é cada vez mais usado para descrever o clima político que se vive nos Estados Unidos.
"As eleições anteriores foram bastante intensas", continuou Valentino. "Mas as emoções que as pessoas expressavam eram muito mais positivas, mesmo nos anos em que o país estava em recessão".
A sondagem foi realizada entre 17 de agosto e 7 de outubro, com os mais de duas dezenas de milhares de entrevistados a serem questionados sobre os sentimentos – raiva, amargura, preocupação, medo, esperança, alívio e satisfação – que têm em relação à administração Trump, à confirmação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal de Justiça, às notícias, à imigração e a outros assuntos.