«As pessoas com um teclado e um ecrã julgam que são invisíveis e invencíveis».
Fernando Carvalho Rodrigues
Estamos a poucas horas da escolha eleitoral do futuro Presidente da República Federativa do Brasil.
Depois de uma pré-campanha e de uma campanha na primeira volta onde a fulanização pessoal e política atingiu níveis nunca antes vistos, a situação ainda se agravou na segunda volta, com ataques pessoais muito baixos, sem debates entre os dois candidatos, sem que programaticamente se percebam as diferenças entre eles, em particular nas principais áreas da governação.
Depois de uma pré-campanha e de uma primeira volta com elevada carga e contágio da Justiça na contenda político-eleitoral, na segunda volta temos assistido – sobretudo na última semana – à desesperada tentativa por parte da candidatura do PT de criar um clima de suspeição eleitoral e de possível futuro novo ‘impeachment’ ou anulação das eleições.
Sinais de fraqueza, de desespero e de desculpabilização pelos mais do que prováveis maus resultados, não só para a Presidência da República mas também para os governos estaduais, Senado, etc. Os media brasileiros têm vindo todos os dias a alimentar o conhecimento do estado das eleições no Brasil, como aliás os media portugueses – considerando a relevância das nossas relações políticas, económicas, sociais, culturais e diplomáticas com as comunidades significativas de cidadãos brasileiros e portugueses que vivem nos dois países.
Em relação a estes (os cidadãos que votam para essas eleições em Portugal ou no Brasil), existem várias perceções sobre o que pensam e querem para o futuro do seu país. É bom termos presente que o candidato Jair Bolsonaro ganhou com larguíssima vantagem em Portugal – onde a comunidade brasileira se mobilizou significativamente para votar – e que a comunidade luso-brasileira no Brasil também votou maioritariamente em Jair Bolsonaro.
Mas não devemos também deixar de ter presente que, nas últimas semanas, temos tido em Portugal várias iniciativas de protesto na rua contra Bolsonaro, com diversas figuras da política, da cultura, da academia e demais áreas da sociedade clamando que a democracia no Brasil pode estar em causa em caso de vitória daquele candidato.
Por muitas razões, Portugal só pode beneficiar de um Brasil estável, com as suas instituições politicas a funcionar regularmente, com mais e melhor desenvolvimento e coesão económica e social, assumindo a sua condição política e diplomática de país relevante na comunidade internacional (podendo mesmo vir a ser membro do Conselho Permanente das Nações Unidas, a par de Estados como a Índia) e país âncora do projeto da lusofonia e da língua portuguesa protagonizado pela CPLP.
O Brasil e os brasileiros não devem ingressar nas fileiras dos países e povos ‘concha’, cultores do chamado ‘efeito papão’, defensores de um país e de um mundo cheio de muros que nos separam e enganam. O mundo e a América do Sul precisam de um Brasil estável, credível, coeso, moderno, aberto, protagonista e forte, na cena política e diplomática.
E só perdem em ter um Brasil instável, descredibilizado, inseguro, fechado, cheio de clivagens e divisões.
Daí que, antes de se saber quem é o novo Presidente do Brasil, se deva desejar a quem ganhar que o país e o seu povo encerrem um ciclo eleitoral excessivamente longo, polémico, com interferências diversas (até da Justiça) que cavaram feridas e divisões que vão ter de ser ultrapassadas o mais depressa possível.
Porque o Brasil não pode continuar dividido como está.
Quem vencer vai ter uma tarefa hercúlea a esse propósito. O Brasil e os brasileiros serão tão ou mais importantes se for promovida a sua segurança, a melhor satisfação das suas principais necessidades coletivas de caráter não só económico e social como também cultural.
Para outra oportunidade, no pós-rescaldo eleitoral, faremos a análise dos resultados, dos vários ‘brasis’ políticos, religiosos e sociais, e também do seu impacto no futuro coletivo dos brasileiros que vivem dentro e fora do país.
Porque, simplificando ao máximo, o que vai a votos é, na prática, a escolha entre o ‘Brasil da segurança’ e o ‘Brasil de Lula’, com tudo o que isso significa sobretudo de negativo.
A par de outras matérias atuais e relevantes, relacionadas com os costumes e as causas fraturantes, o modelo económico e o peso do Estado na economia, a transparência e a integridade da vida pública, o posicionamento político e diplomático do Brasil, regional e mundialmente.
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