O fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa em França morreu esta segunda-feira, aos 92 anos. A notícia foi avançada por fonte da família, cita a Lusa.
Gérald Bloncourt foi o fotojornalista que retratou os portugueses que, durante a ditadura e no período que se seguiu ao 25 de Abril, fugiram para França clandestinamente. As fotografias de Bloncourt estiveram em exposição tanto em França como em Portugal – no Museu Berardo, em Lisboa – e fazem parte dos arquivos da Cité Nationale de l’Histoire de l’Immigration, em Paris, e no Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe.
Nascido no Haiti, de onde foi expulso no final da década de 1940 por razões políticas, Gérald Bloncourt foi condecorado com a ordem de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique já por Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto Presidente da República, em 2016.
“Era uma forma de escravatura moderna. Havia lama no inverno, era frio. Eram barracas feitas com tábuas, bocados de chapa. Era uma vida difícil, muito rude. Os homens iam trabalhar para as obras, as mulheres ficavam com as crianças”, disse o fotógrafo à Lusa em abril de 2015.
O Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, foram o primeiro “bidonville” que Bloncourt fotografou. “Quatro portugueses viram-me e apanharam-me. Pensavam que eu era um polícia. Prenderam-me e meteram-me lá num edifício feito de tábuas. Havia lama por fora, mas lá dentro era asseado e tínhamos de tirar os sapatos”, contou lembrando que não foi fácil conseguir a foto.