Portugal sai bem no último retrato internacional sobre o resultado dos tratamentos a doentes oncológicos. Um estudo divulgado ontem na revista “Lancet” traça rankings por região e Portugal surge no top 10 europeu em três dos tumores mais frequentes: mama, próstata e estômago.
No caso do cancro da mama, que afeta 5000 mulheres todos os anos, a sobrevivência a cinco anos é a quinta melhor a nível europeu, tendo passado de 81,6% nos diagnósticos entre o ano 2000 e 2004 para 87,6% nos diagnósticos entre 2010 e 2014. No cancro do estômago, o país ocupa também a quinta posição a nível europeu e no cancro da próstata a oitava. No cancro da próstata, o mais prevalente nos homens, a sobrevivência é hoje de 90,9% ao fim de cinco anos. No estômago é de 32,2%.
Os resultados do estudo CONCORD-3, que vêm complementar uma segunda ronda de comparações internacionais divulgada em 2014, têm por base os registos de 37,5 milhões de doentes de 71 países diagnosticados com cancro num período de 15 anos entre o ano 2000 e 2014. Para Portugal, os investigadores coordenados por uma equipa da Escola de Higiene e & Medicina Tropical de Londres (LSHTM na sigla em inglês) usaram como referência dados de cerca de 387 mil doentes compilados nos quatro registos regionais de doenças oncológicas. As conclusões são exaustivas mas revelam que, em Portugal, a sobrevivência tem aumentado praticamente em todos os tumores, à exceção de algumas oscilações em tumores mais raros. E mesmo neste período de 15 anos há algumas diferenças significativas entre doentes diagnosticados no virar do milénio ou mais recentemente.
A sobrevivência a cinco anos de crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda passou de 80,8% nas crianças diagnosticadas entre 2000 e 2004 para 89,8% nos diagnósticos entre 2010 e 2014. E mesmo em tumores mais difíceis de debelar tem havido melhorias. A sobrevivência ao cancro do fígado ao fim de cinco anos passou de 13,6% no primeiro quadriénio para 18,7% no último período analisado pelos investigadores. O cancro do pulmão evoluiu de uma sobrevivência de 10,6% para 15,6% cinco anos após o diagnóstico e, no caso do cancro do pâncreas, hoje é possível dizer que um em cada dez adultos sobrevivem pelo menos cinco anos à doença.
As comparações possíveis No campo das comparações, Michel Coleman e Claudia Allemani, investigadores da LSHTM e co-autores da análise, ajudam a tirar a fotografia do que se passa no país. “Globalmente está no top 10 dos países europeus e é preciso ter em conta que muitas vezes a diferença entre a primeira e a décima posição não é muito grande”, explicaram ao i. “A sobrevivência tem estado a aumentar e a posição de Portugal não é desfavorável em relação a outros países, mesmo não estando no primeiro ou segundo lugar”.
As tabelas publicadas na revista “Lancet” revelam que, quando não está no top 10, o país surge a meio da tabela mas nunca na cauda. Entre os cancros mais frequentes, os tumores do cólon e do reto ocupam por exemplo a 15.ª e a 16ª posição no ranking europeu. Como dar o salto para o topo? Coleman e Allemani falam de múltiplos factores. “Claro que todos gostávamos de ver maiores indíces de sobrevivência, mas isso depende de sensibilização da população, diagnóstico precoce, acesso atempado a tratamentos eficazes para todas as pessoas e uma boa organização dos cuidados de saúde”.
A nível global, “mais registos” são essenciais para continuar a tirar o pulso do combate à doença que é das principais causas de morte no mundo, mas tem também cada vez mais sobreviventes. Um dado certo é que, com o envelhecimento, serão cada vez mais os diagnósticos. Estima-se um aumento de 50% até 2030, passando-se para 21,6 milhões novos casos de cancro a cada ano.
Notícia originalmente publicada em janeiro de 2018