Um dos recrutas que morreu durante a chamada Prova Zero nos Comandos tinha “feridas em carne viva, nos joelhos e nos cotovelos”, disse esta quarta-feira em tribunal o major Vasco Brazão.
O major que liderou a investigação da Polícia Judiciária Militar (PJM) ao caso – e que está também envolvido na Operação Húbris sobre o aparecimento das armas furtadas em Tancos – explicou que, quando chegou ao Campo de Tiro de Alcochete, dirigiu-se à tenda onde estava o corpo de Hugo Abreu – um das vítimas mortais – e viu “arranhões e feridas em carne viva” tanto na zona dos joelhos como nos cotovelos.
Recorde-se que Hugo Abreu e Dylan da Silva morreram durante a chamada Prova Zero, a 4 de setembro de 2016.
Quando confrontado com a informação presente no relatório médico-legal de que haviam lesões compatíveis com eventuais manobras de reanimação realizadas ao instruendo, Brazão respondeu que não interpretou as lesões “como agressões”, mas sim como sendo resultantes “de um intenso exercício físico, de rastejar, de ir para as silvas”, o que corresponde a um contexto de instrução militar.
"Uma coisa é agressão, outra coisa é incentivo. Há uma linha muito ténue entre agressão e uma prática menos boa, mas que em termos militares é aceite", disse ainda o major Brazão admitindo que o Ministério Público posa ter feito uma “interpretação” de um incentivo inserido na instrução militar como sendo uma agressão.
O Major Brazão admitiu que só durante a investigação identificou “discrepâncias” entre o guião da Prova Zero e o que foi entregue aos instrutores.
Também sobre as pressões e coações dos depoimentos dos instruendos do 127.º curso – que Hugo Abreu e Dylan da Silva frequentavam – Brazão disse que "é normal um militar não se sentir confortável a falar sobre um superior hierárquico”. “Mas não me apercebi. Da parte da PJM não me apercebi de nada”, acrescentou.
Vasco Brazão vai continuar a ser ouvido no dia 7 de novembro pelas 10h00.