Um leitor, que por vezes perde um pouco do seu tempo a ler as minhas crónicas, sugeriu-me, a propósito da ditadura do politicamente correcto, que escrevesse sobre a polémica gerada à volta de um twitter publicado por um conceituado astronauta norte-americano, de nome Scott Kelly, em que este citava Churchill.
Referindo-se, certamente, ao clima tenso que se vive no seu país, Kelly escreveu o seguinte:
“Um dos maiores líderes dos tempos modernos, Sir Winston Churchill disse: – na vitória a magnanimidade – . Acho que esses dias acabaram.”
O que ele foi dizer. A imprensa e, sobretudo, as redes sociais, encheram-se de críticas, muitas a roçar o insulto, por ele ter ousado citar quem consideraram ter sido um racista.
Assim, sem mais nem menos. Para estes polícias dos costumes da actualidade, cujo trabalho consiste em denunciar os que se desalinham do pensamento dominante, Churchill não foi mais do que um reaccionário racista, a quem o mundo nada deve.
Muito provavelmente, se não fosse a teimosia e a insistência de Churchill, remando contra ferozes marés dentro do seu partido e do governo, em particular do próprio então Primeiro-Ministro Chamberlain, estes caceteiros ao serviço da nova ordem mundial nem sequer teriam a oportunidade de se fazerem ouvir.
Isto porque enquanto a mais destacada classe política local de então defendia a neutralidade britânica em relação à Alemanha, mesmo quando as tropas nazis já tinham iniciado a invasão que as levou a controlar grande parte da Europa, foi Churchill quem se bateu, praticamente sozinho, para que a Grã-Bretanha entrasse na guerra, pretensão que alcançou assim que tomou as rédeas do governo.
Se a neutralidade britânica tivesse persistido e, consequentemente, as tropas hitlerianas não se tivessem dispersado em batalhas pela conquista do seu território, o mundo, tal como o conhecemos hoje, seria, naturalmente, bem diferente, obviamente para pior.
Sondagens recentes revelam que os ingleses consideram Winston Churchill como a figura maior da sua História, privilegiando os seus feitos e desvalorizando as críticas que gente menor teima em inventar.
Mas esta geração de lunáticos, que cada vez mais dispõe de um poder que não recebeu através do voto popular, prefere idolatrar um Che Guevara, que executava com a suas próprias mãos os seus opositores e vangloriava-se de odiar mais os gays do que os próprios pretos e índios (uma das suas muitas e polémicas tiradas com que nos brindou…) em vez de respeitar os grandes estadistas da História universal, cujo contributo para a paz e para o desenvolvimento humano da sociedade em que vivemos é inquestionável.
Não terá sido, assim, por mera coincidência, que Jair Bolsonaro, na sua primeira declaração pública após ser consagrado como Presidente eleito do Brasil, ter exibido três livros que alegou virem a ser a sua fonte de inspiração ao longo do seu mandato presidencial: a Bíblia, a Constituição brasileira e uma bibliografia de Churchill.
Uma das mentiras com que a opinião publicada nos tem procurado intoxicar desde que a vitória de Bolsonoro se afigurou como um dado adquirido, é a de que os seus votantes se viram forçados a optar entre ele ou o PT, escolhendo o que lhes pareceu ser o mal menor, atendendo ao pântano de corrupção em que o partido de Lula se atolou.
Nada menos verdade, atendendo a que Bolsonaro não foi eleito na primeira volta por um triz, tendo o eleitorado à sua disposição uma panóplia de candidatos que preenchiam todo o espaço político, tanto à direita como à esquerda, nomeadamente políticos credenciados, conhecidos pela sua moderação e que não estarão nas malhas da justiça, como Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, sem dúvida vistos como uma alternativa de peso ao fantoche indicado por Lula.
50 milhões de brasileiros preferiram dar o seu voto, logo na primeira volta, ao agora Presidente eleito, descartando a faculdade de escolherem outro candidato menos polémico e não alegadamente proveniente de áreas extremistas.
Esses brasileiros votaram em Bolsonaro não por exclusão de partes, mas sim porque se identificam com as suas ideias e com o projecto com que ele se apresentou a sufrágio.
Os que votaram em Bolsonaro não estão apenas fartos dos políticos corruptos que transformaram o Brasil num dos países mais inseguros do mundo e rebentaram com uma das mais robustas economias do continente americano, estão igualmente cansados do pensamento anti-cultural imposto por minorias histéricas e mentalmente perturbadas, a quem as maiorias se têm deixado subjugar, seja por simples apatia ou por cobardia em enfrentar esses arautos do politicamente correcto.
Bolsonaro cativou a maioria dos brasileiros porque glorifica o passado e aqueles que o protagonizaram e se recusa a aceitar um Brasil ateu, no qual a família tem sido relegada para um papel secundário e onde os parasitas que se vitimam como excluídos da sociedade vivem às custas do erário que o Estado, generosamente, lhes põe à disposição.
Como não podia deixar de ser, porque tal procedimento é recorrente quando sai derrotada, a esquerda vem reclamar da legitimidade da escolha dos brasileiros.
Para a esquerda, em qualquer parte do mundo em que assenta arraiais, a democracia só é genuína quando a vitória lhe sorri. Quando o eleitorado não se deixa convencer pelos seus argumentos, então vaticinam de imediato que a democracia está em perigo e exorcizam os fantasmas do estrangulamento das liberdades e da repressão a que o povo acaba de ser condenado.
Para a esquerda, e também para uma certa direita envergonhada, Bolsonaro deve, em exclusivo, a sua eleição ao que consideram duas fraudes: a disseminação de notícias falsas e o recurso às redes sociais.
Naturalmente que não é de excluir a mais que certa probabilidade da campanha do candidato vencedor ter recorrido a factos distorcidos da realidade, em particular respeitantes ao seu oponente da segunda volta, sabendo-se ser esta uma prática comum em todos os actos eleitorais, seja em que país for e transversal a todas as correntes políticas.
Além de mais o próximo Presidente brasileiro foi também vítima de uma campanha pejorativa, vinda não apenas da esquerda mas de todos os quadrantes, sendo sistematicamente rotulado como um nazi de extrema-direita e com a pretensão de restaurar a ditadura militar, para além dos mimos do costume, como fascista, racista, xenófobo, homofóbico e sexista, sendo que essa campanha de medo assustou muitos dos seus potenciais votantes, receosos da veracidade das acusações com que foi difamado.
Quanto às redes sociais, compreende-se o desespero da esquerda, habituada que está a manipular e controlar os principais meios de comunicação social e o mundo da cultura em geral, sectores em que se move como peixe na água e através dos quais procura fazer-se eleger para os cargos de topo do Estado.
As redes sociais transformaram-se num pesadelo para a esquerda, que se vê a braços com um gigante meio de comunicação do qual não se consegue apropriar, não lhe restando, por isso, outra solução que não a de forçar o seu banimento para fins de propaganda eleitoral.
Não sei, sinceramente, se Bolsonaro vai corresponder às imensas expectativas que nele depositaram todos quantos lhe confiaram os destinos do Brasil, mas, pelo menos, é de toda a justiça que lhe seja concedido o benefício da dúvida.
É certo que no passado algumas declarações desbocadas contribuíram para minar a sua credibilidade presente, mas também não é menos verdade que parte considerável dos políticos que se passeiam pelos vários gabinetes europeus iniciaram-se no mundo da política com o recurso às mais disparatadas opiniões, naturalmente totalmente opostas às que agora apregoam.
Basta ouvir-se Durão Barroso nos tempo em que militava pelo MRPP e não foi por isso que não deixou de ascender à presidência da Comissão Europeia.
Para bem do Brasil, e não só, há que fazer figas para que Bolsonaro dê certo!
Pedro Ochôa