Há entidades de abastecimento de água que não cobram mais de metade da água que fornecem devido em especial ao volume de água que perdem por má manutenção das tubagens. É o caso da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, que, segundo os dados disponíveis no mais recente «Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos» da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), apresentou em 2016 uma percentagem de 81,2%de água não faturada. Este indicador, como explicou ao SOL Carla Graça, especialista em recursos hídricos da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, «reflete, além das perdas ao longo da rede de abastecimento por roturas ou má manutenção, a água que é oferecida a determinadas associações ou aos bombeiros, por exemplo, por acordo com as autarquias», a par da utilização ilegal.
As perdas, contudo, são motivo de especial preocupação para a Zero, tal como para a Quercus. «[Esta] é uma rede que já tem alguns anos e que está a ser intervencionada em alguns pontos, mas não em número suficiente. Sabendo que o ano passado foi de seca extrema e que as perspetivas quanto às alterações climáticas não são animadoras – na África doSul estão mesmo a ser adotadas medidas de racionalização da utilização da água –, todas as perdas que possam existir são de lamentar», defende Carmen Lima, dirigente da Quercus. «A quantidade de água potável que existe em todo o planeta são 2%. Dessa percentagem, apenas 1% está verdadeiramente disponível, porque o restante está congelado. Temos uma quantidade muito reduzida de água para consumo humano», assinala a mesma ambientalista. E de facto, analisado os números do indicador «perdas reais de água» também disponível no relatório, verificamos que existem razões para alarme. A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, responsável pelo abastecimento do concelho, é a entidade com mais perdas no país: perde 641 litros de água, por dia, por ramal (tubagens que saem da tubagem principal) – quantidade de água que enche quase três banhos de imersão. Segue-se-lhe a Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, que perde 535 litros por dia por ramal, e a autarquia d e Silves, que desperdiça 489 litros de água. No país, a média de água desperdiçada por dia, por ramal, é 126 litros. A água não faturada pelas entidades de abastecimento fica-se pelos 29,8%.
Fundamental para minimizar as perdas e reduzir as percentagens de água não faturada é a reabilitação de condutas – pelo país existem 108,757 quilómetros de condutas de água. Não admira, por isso, que esse seja outro indicador da ERSAR. Contudo, ao contrário do que seria desejável, a entidade reguladora considera que «a nível de Portugal continental, a reabilitação de condutas é insatisfatória […], indiciando potencial de melhoria com uma prática continuada de reabilitação de condutas».
Nos últimos cinco anos, segundo os dados do relatório, foram reabilitados 1998 quilómetros de condutas – apenas 0,6% por ano. «Considera-se haver claras oportunidades de melhoria, sendo importante que as entidades gestoras avaliem a necessidade de implementação de programas de reabilitação de condutas», conclui a ERSAR.