Montepio. Preservar é a palavra de ordem

Há uma garantia comum aos três candidatos ­­– António Godinho, Ribeiro Mendes e Tomás Correia ­– preservar a instituição. Conheça algumas das preocupações e prioridades de cada uma das listas.

Montepio. Preservar é a palavra de ordem

Falta menos de um mês para as eleições da Associação Mutualista Montepio (AMMG) e os três candidatos estão cada vez mais ativos na sua campanha. E há uma ideia comum nas declarações de Ribeiro Mendes, António Godinho e Tomás Correia: preservar a entidade.

Ribeiro Mendes o primeiro a oficializar a sua candidatura diz que pretende recuperar os valores da mutualidade e da economia social. «Importa reforçar os fins de proteção social e saúde que estiveram na génese do Montepio e fazem parte do ADN da nossa instituição. Para isso, o caminho que o Montepio terá de percorrer nos próximos anos assenta em princípios de boa governação, transparência, equidade, coesão territorial, inclusão, inovação, sustentabilidade (económica, social e ambiental) e conhecimento», diz ao SOL.

Mas os objetivos não ficam por aqui. A lista B quer ainda «retomar o primado da segurança na gestão dos fundos mutualistas, regressar aos fins de proteção social que estão na génese do Montepio, reforçar a qualidade e dignidade de vida dos associados, fortalecer a articulação entre entidades do grupo Montepio para acelerar a transformação digital, melhorar a cooperação com as entidades da economia social e transformar o Montepio no melhor local para se trabalhar».

Segundo o candidato, estas ideias mobilizaram um conjunto de associados e daí até avançar foi um passo. E não tem dúvidas em relação ao futuro: «É indispensável um novo rumo para a Associação Mutualista do Montepio e é com essa crença que a Lista B se candidata. Acredito que o universo dos associados, espalhado por todo o país e no estrangeiro, também tem consciência de que o futuro da sua instituição depende de uma mudança efetiva, que faça a associação voltar a crescer e que inverta o caminho seguido por um [Tomás Correia], cujo resultado é a perda de valor a vários níveis», acrescenta.

Nesta lista constam nomes como Miguel Coelho (atual administrador da mutualista e quadro do banco), Maria Nazaré Barroso (membro do conselho de administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões – ASF), Pedro Corte Real (professor da Universidade Nova) e Vítor Baptista (antigo dirigente do PS de Coimbra). O ex-vice-governador do Banco de Portugal João Costa Pinto é o nome indicado para o conselho-geral da mutualista e João Carvalho das Neves para o conselho fiscal.

 

Acabar com crise de confiança

Também António Godinho ­– que já tinha participado nas últimas eleições, tendo ficado em segundo lugar com 21,5% dos votos – pretende «recuperar a confiança dos associados do Montepio». No entender do responsável, a lista C «é a única que junta toda a oposição nas últimas eleições e é a única que verdadeiramente corporiza a alternativa aos atuais órgãos sociais. É uma lista de independentes, de pessoas que há muitos anos lutam pela renovação e pelo futuro da Associação Mutualista Montepio Geral. Pessoas de bem e com experiência e capacidade de gestão, que apenas querem ajudar e servir a AMMG».

Em relação à futura gestão da Mutualista é dada uma certeza: «É preciso uma gestão aberta, democrática, com base nos princípios de ética e de integridade», diz ao SOL António Godinho, lembrando que é preciso voltar às origens, tendo sempre em conta a nova realidade económica e social. «A grande crise que temos hoje é a de confiança e esta não pode ser conquistada com truques e com operações de maquilhagem».

 A sua lista conta com nomes como Nuno Monteiro, que já tinha entrado nas últimas eleições, António Couto Lopes, Lúcia Gomes e Tânia Flores. Eugénio Rosa é o nome indicado para presidente do conselho fiscal, enquanto Alípio Dias é o escolhido para liderar o conselho-geral.

O economista afeto ao PCP explica a sua decisão: «É urgente afastar a administração e resgatar o Montepio de gente que tem alguns processos na justiça, ou colocados pelo Banco de Portugal, e que tem afetado gravemente a reputação do Montepio e determinado a perda de confiança no Montepio por parte de um grande número de associados», revelou Eugénio Rosa.

 

Apoio da sociedade civil

Apesar da incerteza que se arrastou largas semanas, Tomás Correia acabou por avançar para a corrida e, na apresentação da sua candidatura, que decorreu esta semana, acenou com o apoio da sociedade civil. O atual presidente da entidade já tinha deixado em aberto a hipótese de avançar para o seu último mandato, admitindo fazê-lo «no limite», se não encontrasse alguém mais jovem para o substituir. «Gostava de ter uma pessoa da geração posterior à minha que assumisse as rédeas do Montepio, imbuída dos seus valores, que não renegasse a sua história e que tivesse condições para acrescentar mais património ao grande património que esta casa tem. E tem de ser alguém que pudesse cá estar 15 anos», chegou a afirmar.

Ao SOL garantiu que não se tratou de um assunto tabu, mas admitiu que tinha «uma vontade muito forte» em não se candidatar. Acabou por avançar com um único objetivo «preservar o Montepio».

Em causa está o o novo Código das Associações Mutualistas, aprovado pelo Governo e que introduz novas regras sobretudo para as grandes mutualistas, que passam a estar sob a alçada da supervisão da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Ainda assim terão um período de transição de 12 anos para adaptação ao novo regime.

«Este período de transição é um período muito exigente, ao contrário do que se possa pensar. Tem de ser tratado com muito rigor, com muita seriedade, é preciso ter um conhecimento muito forte não só do que é a Associação Mutualista, mas também daquilo que são as normas aplicadas no setor segurador. Um período de transição mal negociado ou sem cuidado, o risco que se corre é elevadíssimo e pode levar ao fim da instituição», avisa.

Para os outros órgãos sociais, a Lista A apresenta a antiga ministra da Saúde e ex-candidata à Presidência da República, Maria de Belém, como candidata ao conselho-geral da AMMG. Na lista surgem nomes como Luís Patrão (antigo presidente do Turismo de Portugal), Luís de Matos Correia (ex-secretário-geral do PSD e deputado à Assembleia da República) e ainda Maria das Dores Meira (presidente da Câmara Municipal de Setúbal, do PCP). Já o padre Vítor Melícias será o cabeça de lista à mesa da Assembleia Geral. Para o conselho fiscal, a lista de Tomás Correia conta com o nome de Ivo Pinho, antigo presidente do IFADAP (Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pesca). Manuela Eanes encabeça a Comissão de Honra, da qual constam ainda, entre outros, os nomes de Jorge Coelho e José Eduardo Martins, Edmundo Martinho e Rui Nabeiro, Francisco Moita Flores e Vasco Lourenço.

Este texto contém alguns excertos de entrevistas feitas aos três candidatos e que serão publicadas na íntegra esta semana no jornal i.