Foi fugaz, desesperadamente fugaz, o eco do Congresso do Casal Vistoso.
E, todavia, bem preparado, melhor encenado, superiormente representado.
Não faltou nada.
Um dia para ridicularizar o PS, outro para dar a novidade da cabeça de lista às eleições europeias, o fecho com as propostas de um partido maduro que ou cai nessa condição e nesse estádio ou conquista o poder.
A questão europeia é, no sentido simbólico, absolutamente essencial para se compreender o caminho das experiências.
Ali, o Bloco está fora (estando dentro), por aqui está dentro (estando fora).
A ambivalência cansa.
O grilo do Pinóquio dá um passo em frente. And beyond…
Não, não basta ser a consciência falante.
É urgente que um núcleo de propostas seja aceite.
Qual é o problema? É que há agendas e condições surdas por trás do que fica proposto.
Com isto, o Bloco de Esquerda quer ser aceite e manter a autonomia.
Cada exigência feita será uma vitória, cada concessão do poder uma derrota.
Portanto, das duas uma. Ou o PS se compromete em definitivo e abre as portas do Governo ou o Bloco bloqueia.
O eleitorado que interessa, nestes termos, fica reduzido aos que são potencialmente votantes no PS e àqueles que serão os seguidores do BE.
Por isso dizem que os outros não contam.
No seu pensamento, as próximas eleições decidir-se-ão entre a jactância do partido no governo e a sede do sócio oferecido.
Foi bom o Governo. Deu muito. Foi melhor o apoiante dedicado. Exigiu mais.
Esta contabilidade simples é o segredo do sucesso.
Os portugueses esperam mais, gastam mais, poupam menos, confiam (ou jogam).
O ato do Governo transforma-se em reflexo condicionado.
Cada reivindicação que surge, amplificada na comunicação social, transforma-se em direito, desde que convenha.
E a partir daí movimenta-se o processo inventivo do novo imposto ou da alteração cirúrgica ao sistema que a comporte.
A mana Mortágua entende, mesmo, dar conta da sua especial competência para o Governo fazendo da insónia o berço do aumento da receita fiscal.
Tem sempre soluções para tudo, o Bloco.
Exceto para o que faz falta ao futuro.
O ministro Centeno bem sabe que as medidas milagrosas cabem na cova de um dente.
Um bom negócio, a cova de um dente. Cada português tem mais de trinta. A arte e o jeito necessários para os tapar motivam qualquer um. Rendem.
Ao lado passa o país que deveria ter futuro.
A outra mana Mortágua podia dedicar-se ao estudo das medidas indispensáveis ao aumento do investimento, ao crescimento da riqueza. Não consegue. Se calhar não é, ainda, competente para governar. Encontra-se no lado errado da noite.
Talvez esteja a ser injusto. Afinal houve um de entre todos que quis criar riqueza especulando no setor mais dinâmico do país, a reabilitação urbana. Não o compreenderam. Assim se foi um possível ministro da Indústria. Foi um vistoso avant la lettre.
Não chega este afã.
A agitação grevista do PCP incomoda. A insuficiência do PSD afasta. A aliança mina.
Por tudo isto e pela especial arte de bem cavalgar toda a sela conjugam-se os astros para um futuro radioso do partido do governo. Preservem-se os animais, toureie-se o eleitorado.
A outra arte indispensável é a do eficaz silêncio da cativação.
Faltará, apenas, cativar a maioria.
Absolutamente…