O Presidente da República deixou recados para o Governo e para a Oposição num discurso recheado de avisos sobre o futuro do país. Foi em Porto de Mós, na terça-feira, que Marcelo Rebelo de Sousa alertou que é preciso crescer mais, porque Portugal não pode desperdiçar «uma oportunidade única» para cumprir «a nossa vocação».
O discurso, na sessão de abertura do 1.º Encontro da Fundação Batalha de Aljubarrota, era sobre a história e o futuro do país e o Presidente da República aproveitou para deixar alguns recados a seis meses das eleições europeias e a menos de um ano das legislativas. O Governo não saiu ileso quando Marcelo considerou que as opções feitas pela geringonça, nomeadamente a aposta no consumo interno, têm implicado «sacrifício ou adiamento de algum investimento público estruturante». Coincidência ou não, um dia antes de serem publicados os dados do INE que apontam para um abrandamento da economia, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que os próximos tempos «aconselham, no mínimo, mais crescimento económico e, para tanto mais, condições propícias a investimento e exportações». E mais: «A falta de crescimento sustentado ou a sua insuficiência pode impedir a concretização da nossa vocação e esta vocação tem uma oportunidade única no momento que atravessamos».
Não foi só ao Governo que Marcelo enviou recados. Numa altura em que Rui Rio enfrenta problemas internos, o Presidente da República voltou a reclamar uma oposição forte e capaz de oferecer «alternativas sólidas». Não é difícil adivinhar que o chefe de Estado estava a falar sobre Rui Rio quando alertou que «quem se atrasar ou faltar mesmo à chamada para o encontro com os portugueses não se poderá queixar do destino nem da penosidade do recomeço da caminhada nos idos mais próximos».
A pensar nas eleições, Marcelo apelou aos partidos para apresentarem propostas claras e realistas. «Clareza dos propósitos e das propostas, verosimilhança da solidez da sua base de apoio político para que as propostas não fiquem apenas como meras intenções sem capacidade de ser poder» e «rapidez na transmissão das mensagens» são três realidades a que os partidos devem estar atentos.
O discurso de Marcelo trouxe ainda um apelo ao consenso em áreas fundamentais e uma crítica aos partidos por não se conseguirem entender na reforma da Justiça. «É um sinal de fragilidade do Estado de Direito democrático em Portugal». A intervenção de Marcelo acabou por ter um impacto reduzido na semana em que a agenda mediática foi dominada pela detenção do ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, mas os recados não deixaram de chegar aos vários destinatários.