Ponte Maputo-Katembe: símbolo da unidade moçambicana

Com esta obra que custou mais de 750 milhões de dólares cumpre-se a ambição africana de ligar por terra o Cairo à Cidade do Cabo.

A ponte Maputo-Katembe, que liga as duas margens da baía de Maputo, foi inaugurada no passado sábado. Com três quilómetros de extensão, 25.6 metros de largura e quatro faixas de rodagem, sendo duas para cada lado, a ponte levou quatro anos a ser construída e teve um custo superior a 750 milhões de dólares.

A infraestrutura, cuja construção esteve para ser entregue à construtora portuguesa Mota-Engil, acabou por ser adjudicada ao grupo chinês China Road and Bridge Corporation (CRBC), tendo sido financiada com empréstimos concedidos pelo Banco de Exportações e Importações da China.

O empreendimento reveste-se de grande importância estratégica para o desenvolvimento da região sul, particularmente da província de Maputo, pois irá beneficiar direta e indiretamente a população da Katembe que se estima possa aumentar progressivamente dos atuais cerca de 20 mil habitantes para perto de 400 mil habitantes, com o advento da execução do plano de desenvolvimento urbano e construção das infraestruturas previstas, que será levado a cabo nos próximos 20 a 30 anos.

Antes de descerrar a lápida e cortar a fita simbólica para inaugurar a maior ponte suspensa de África e a mais cara obra do país desde a independência, em 1975, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sublinhou que a ponte contribuirá para a dinamização da economia moçambicana. Foi construída, segundo Filipe Nyusi, «pensando no potencial da infraestrutura para alavancar a economia moçambicana», por isso, «sem hesitações, decidimos avançar com firmeza para a sua concretização».

No seu discurso, o chefe de Estado moçambicano enalteceu ainda o facto de a ponte Maputo-Katembe – incluindo as vias de ligação com uma extensão total de 187 quilómetros – ser também a materialização de uma antiga ambição africana de ligar por via rodoviária a capital do Egito, Cairo, e a Cidade do Cabo, na África do Sul, no extremo oposto do continente.

«A ponte é um símbolo da unidade nacional e da superação de adversidades e das nossas diferenças», acrescentou Filipe Nyusi.

 

Polémica

A mais cara ponte da história de Moçambique desde a sua independência esteve desde o início debaixo do olho do furacão por parte de alguns círculos sociais, académicos e políticos, por causa dos valores envolvidos e da sua pertinência. Aliás, na sua intervenção, o ex-chefe de Estado moçambicano Armando Guebuza, o idealizador do majestoso empreendimento sublinhou que «esta é uma conquista de todos moçambicanos e que deve ser defendida por todos nós. Quando temos uma conquista, há quem não gosta e ataca, não nos preocupemos com isso».

O valor das portagens a serem pagas na travessia é outro tema polémico. Estas estarão subdivididas em quatro classes, custando entre 160 meticais (2,3 euros) para a classe 1 e 1200 meticais (17,2 euros) para a classe 4, com um desconto de 75% para os maiores utilizadores, como os transportes semicoletivos e autocarros de passageiros e tratores com e sem atrelado.

O empresariado nacional critica o valor alto das portagens. O presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, Agostinho Vuma, afirma que «o setor dos transportes vai ser o primeiro a ressentir-se e vai transferir esse problema para o cidadão comum. Há que rever as taxas para que estes custos não passem para o cidadão».

A concessionária da obra, a empresa Maputo Sul, diz que as receitas resultantes do pagamento das portagens não serão suficientes para custear as despesas de manutenção que estão orçadas em 1,2 milhões de dólares (1 milhão de euros) anuais.

 

Por Adamo Halde, Jornal do Índico