Durou pouco mais de quatro meses a relação entre o Marítimo e Cláudio Braga. O treinador de 44 anos chegou à Madeira no início da temporada, depois de ter conseguido levar o Fortuna Sittard à primeira divisão holandesa, mas somou um pecúlio fraco ao leme dos Leões da Almirante Reis: quatro vitórias, dois empates e nove derrotas em 15 jogos. A gota de água foi o desaire do último domingo em pleno Caldeirão dos Barreiros: 0-3 frente ao Feirense, que ditou a eliminação da Taça de Portugal.
Uma derrota que, de resto, completou uma sequência negra: dez jogos sem vitórias – a última, por 1-0 na Vila das Aves, data já de 2 de… setembro. A contestação ao técnico já vinha a subir de tom há várias semanas, mas atingiu neste encontro o ponto máximo, com muita gente nas bancadas a mostrar lenços brancos a Cláudio Braga logo ao intervalo, quando o Feirense já vencia por 2-0. Na parte final da partida, os adeptos do Marítimo chegaram a entoar “olés” enquanto os visitantes trocavam a bola e os ânimos aqueceram ainda mais quando o técnico recolheu aos balneários, acabando brindado com vários insultos.
No fim da partida, Cláudio Braga ainda rejeitava a possibilidade de sair. “A gente pode fugir ou pode lutar e eu venho de um sítio onde não se foge: luta-se até ao fim. Há diálogo, fala-se com o grupo, fala-se com o presidente”, salientava. E foi precisamente depois de uma reunião com Carlos Pereira que surgiu o desfecho há muito esperado: a saída “amigável”, segundo garantiu o presidente dos rubro-negros. “Estou de consciência tranquila, fiz tudo o que estava ao meu alcance para Cláudio Braga ter sucesso no Marítimo, mas não foi possível. Após uma conversa franca, com entendimento mútuo acerca do momento menos bom da equipa, a desvinculação foi obtida de forma civilizada, como sempre decorreu o relacionamento profissional entre as duas partes”, frisou Carlos Pereira.
Experiência na Holanda não chegou Para já, não é ainda conhecido o nome do sucessor de Cláudio Braga, que hoje passará pelas instalações do Marítimo para se despedir dos atletas – ontem foi dia de folga. O treinador natural de Lisboa chegou no último verão ao Funchal para suceder a Daniel Ramos, que havia orientado a equipa madeirense de forma muito positiva nas últimas duas temporadas (sexto e sétimo lugares), e foi de imediato recebido com alguma desconfiança pelos adeptos do Marítimo devido ao curto historial como técnico de equipas seniores – apenas uma curta passagem pelo Santa Clara, em 2014/15 (quatro vitórias em 18 jogos), e outras duas por clubes modestos da Holanda.
Cláudio Braga, na verdade, fez a esmagadora maioria do seu percurso como treinador no futebol holandês, tendo passado três épocas como técnico dos juvenis do PSV Eindhoven e outra no mesmo escalão no Utrecht. Ao Fortuna Sittard chegou no início da época passada para coordenar todo o futebol jovem, acabando por assumir o comando técnico da equipa principal a meio da temporada – e com enorme sucesso, dada a subida de divisão.
A aposta de Carlos Pereira acabou por não surtir efeito: cumpridos dez jogos da I Liga, o Marítimo é 12.º, com dez ponros conquistados – apenas um acima da zona de despromoção -, e está já fora da Taça de Portugal e também da Taça da Liga, depois de uma derrota em Alvalade (3-1) e outra em Santa Maria da Feira (3-2), precisamente frente à equipa que o afastou agora da prova-rainha.
Esta foi apenas a segunda chicotada psicológica do principal escalão do futebol nacional nesta temporada: só o Sporting tinha mexido mais cedo, com José Peseiro a ser despedido quando estavam decorridas oito jornadas – embora a saída tenha acontecido após uma derrota caseira… na Taça da Liga, frente ao secundário Estoril. Nas duas últimas temporadas, por esta altura, eram já cinco as mudanças de comando técnico – ao menos neste aspeto parecem estar a registar-se algumas melhorias no nosso futebol. Veremos se esta mudança se vai manter… ou se é só uma questão de tempo até recomeçar a dança das cadeiras.