Arte Xávega. Os passos de uma tradição secular

A arte xávega, um método tradicional de pesca de arrasto, continua a ser praticado na zona de Aveiro. Fomos perceber como se desenrola este processo centenário.

A xávega é uma arte de pesca tradicional de cerco e arrasto, praticada em algumas praias da Região de Aveiro. Segundo os registos, no final do século XIX – o período de maior pujança e importância económica da xávega -, trabalhavam, na praia da Torreira, na Murtosa, onze companhas, que utilizavam tração animal com juntas de bois para o ofício.

Os tempos mudaram e, atualmente a xávega é feita com ajuda de tratores, tendo-se tornado num processo muito mais rápido e menos doloroso.

O aparelho de pesca é constituído por um saco, prolongado por duas mangas, nos extremos dos quais se amarram os cabos de alagem. Uma das extremidades do aparelho fica em terra, enquanto o resto é colocado a bordo da embarcação que sai para o mar, libertando a rede. Terminada a largada, a outra extremidade é trazida para terra, e puxada pelo trator.

 

O barco xávega

Também os próprios barcos usados nesta arte são especiais. O barco xávega possui um conjunto de características físicas, distintas de outras embarcações, associadas à sua função: a sua bela forma em crescente de lua e o fundo chato.

É tradicionalmente construído em madeira de pinho, contando com cerca de 11 metros de comprimento. A tripulação é constituída entre 7 a 9 homens.

Apresentações feitas, passemos ao processo. O aparelho de pesca é constituído por um extenso pano de rede quadrangular, intercetado ao centro, por um saco do mesmo género. À intersecção dá-se o nome de boca do saco.

Os cabos eram transportados, num carro, dos armazéns até ao barco, por várias pessoas, para se proceder ao lanço.

Um dos acessórios mais importantes para empurrar o barco, denomina-se de moleta. É colocada uma de cada lado do barco para auxiliar a entrada no mar. 

O arrais da embarcação é a pessoa que define a distância a que se dá o lanço. O lanço é dado em função da corrente. Depois da distribuição da rede, o barco vira-se para terra, invertendo a trajetória. Chegando à praia, o barco é puxado novamente pelo trator, para procederem à recolha da rede.

Ao chegar a rede, dois homens posicionam-se, um de cada lado, segurando obliquamente o seu bordão, para amparar a rede na sua trajetória, impedindo, desta forma, que a corrente a arraste. À chegada do saco, dois homens amarram as chamadas «cordas de bocas», fechando a boca do saco. Mais do que impedir que o peixe fuja, esta operação previne que a rede que vem «a zorro» se enterre e fique danificada.

Já na praia, o saco é esticado e é executada a abertura do porfio, uma espécie de costura, que une as ilhargas do saco, feita com um fio mais fraco, que facilmente é cortado com uma navalha. Daí sai o lanço, que pode dar sardinha, carapau, tainhas ou cavalas, entre outras espécies.

Depois de escolhido o peixe, enchem-se as caixas que se hão de levar para o mercado.

Atualmente, na praia de Torreira, concelho da Murtosa, existem duas companhas a trabalhar durante o ano, uma pertencente a Marco Silva e a outra ao Zé Murta.