Do desejo à realidade brasileira

Apesar de ser uma democracia jovem, o Brasil tem hoje uma sociedade ativa e criativa (ex. o panelaço na era Dilma)

Stanford, 2017. Sete meses após a tomada de posse do novo Presidente dos EUA, enquanto o mundo discute o futuro da democracia, um amigo americano mostra-se tranquilo com o Presidente que não votou. São Paulo, 2018. 21 meses de democracia com Donald Trump, os EUA viram o seu PIB crescer 4,1% no último trimestre e o Brasil elegeu Jair Bolsonaro como o Presidente que prometeu romper com o establishment de 24 anos de PT e PSDB. Povo tranquilo votou polarizado, mas discute-se o nascimento do fascismo. O PSL cresceu à sombra do oportunismo, o PT tenta esquecer Lula e o PSDB tenta encontrar um novo ‘plano real’ para a sua sobrevivência política. Lisboa, 2019. Sete meses após a tomada de posse do novo Presidente do Brasil, a União Europeia ainda tem 28 Estados Membros e discute-se o alargamento aos Balcãs. O fascismo não controla o Brasil, a economia voltou a crescer no último trimestre, regista-se um aumento do investimento na educação básica, as universidades veem sua autonomia reforçada e o CNP volta a abrir editais para projetos de investigação.

 

Do desejo à realidade, o impacto de Bolsonaro parece rivalizar com a eleição de Trump. Tal como nas últimas eleições americanas, ideias fraturantes propostas pelo Presidente eleito levantaram movimentos cívicos e levaram meios de comunicação social a declararem intenções de voto. Contudo, no lado americano, a inércia funcional das instituições tem retardado ideais revolucionários. Do ponto de vista económico ainda não se faz sentir a influência Trump: desde 2010 que o PIB cresce e o desemprego decresce com taxas relativamente constantes. Na imigração, a ampliação do muro entre o México e os EUA tem sido retardada pelo Congresso. No ambiente, de acordo com a revista Time, há empresas de energia contra a decisão do governo de reverter a regulamentação ambiental da era Obama.

 

Apesar de ser uma democracia jovem, o Brasil tem hoje uma sociedade ativa e criativa (ex. o panelaço na era Dilma). As universidades são espaço de crítica e gozam de significativa autonomia. A democracia já provou não implodir quando o poder judiciário desafia empresários e a classe política, mesmo tendo condenado um antigo Presidente. Mas, o Mensalão também mostrou que o Congresso não é imune à corrupção através da compra de votos parlamentares.

Portanto, num paralelismo com os EUA, a questão que se coloca é: estarão os órgãos constitucionais brasileiros preparados para o próximo Presidente? A resposta será dada pelos brasileiros a partir de janeiro. 

 

*Diretor da Licenciatura e do Mestrado em Engenharia Civil – Universidade Lusófona, Lisboa