Emoções fortes no Bessa, nervos em franja, um cenário de empate até aos últimos momentos… e um golo apontado por um suplente que vestiu a pele de herói quando já ninguém esperava. Foi assim mais um dérbi entre Boavista e FC Porto, que acabou por pender para os azuis-e-brancos (0-1), agora novamente líderes isolados do campeonato.
Nunca ia ser fácil – essa é uma evidência. Em 55 jogos no Bessa entre as duas formações para o campeonato, o FC Porto somava 30 vitórias, contra 15 do Boavista e dez empates. Por outro lado, o último triunfo axadrezado datava já de 2006/07 (2-1, com golos de Ricardo Silva e Zé Manel para o Boavista e Lucho González para os dragões), o que conferia, por si só, maior favoritismo para o lado azul-e-branco. Isso e, obviamente, a realidade atual das duas equipas, com os boavisteiros em apuros na tabela classificativa e os portistas na liderança.
Num encontro sempre mais disputado no físico do que propriamente na beleza estética, as oportunidades de golo escassearam – na primeira parte, de resto, houve apenas uma para cada lado: logo aos sete minutos, na sequência de um lançamento lateral, Felipe falhou o corte e Rafael Lopes, na cara de Casillas e com tudo para marcar, atirou por cima. O FC Porto, relembre-se, já sofreu desta forma noutras ocasiões esta temporada – nomeadamente frente ao Vitória de Guimarães, na derrota caseira por 3-2 logo na terceira jornada. Um pormenor a rever com urgência por Sérgio Conceição.
No resto dos primeiros 45 minutos, muitas disputas a meio campo, várias paragens por lesão – especialmente do lado do Boavista, que viu Obiora sair em lágrimas logo aos 17’, aparentemente com um problema muscular – e algumas quezílias, que resultaram na expulsão de Luís Gonçalves, diretor-geral do futebol do FC Porto. Um remate de Otávio à malha lateral da baliza à guarda de Helton Leite, aos 32’, devolveu o foco ao que realmente interessa (o futebol). E, em cima do intervalo, chegaria a primeira grande ocasião para os dragões: numa jogada de insistência, Danilo cruzou e Herrera dominou em queda. Perdido o tempo e o espaço para rematar, deu curtinho para Brahimi, que disparou para uma enorme defesa de Helton Leite à queima-roupa. A segunda parte prometia.
Tanto dá até que fura Seguiram-se, de facto, 45 minutos mais interessantes que os primeiros. Logo a abrir, um remate de Marega defendido com enorme classe por Helton Leite, num lance bastante semelhante aos protagonizados por Rafael Lopes e Brahimi no primeiro tempo. Pouco depois (51’), o maliano introduziu mesmo a bola na baliza boavisteira, mas o jogo já estava parado devido a um fora de jogo prévio de Herrera.
Por esta altura, óbvio sinal mais para o FC Porto, que se acercava da área do Boavista. Herrera, em zona frontal, disparava por cima (53’); Felipe, em posição ainda mais privilegiada, cabeceava igualmente para lá da trave axadrezada (60’). O Boavista raramente conseguia criar algo sequer parecido com uma jogada de perigo – Rochinha tentou aos 71’, entrando com a bola na área portista, mas foi ao chão com uma facilidade extrema; Hugo Miguel mandou jogar. No seguimento do lance, o menino Gonçalo Cardoso (jogo extraordinário do central de apenas 18 anos) impediu que o cabeceamento de Marega chegasse à baliza.
Já com Soares em campo, o FC Porto acabou por chegar ao golo aos 72’, na sequência de um canto, mas o lance foi invalidado por fora de jogo de Herrera, que havia feito a recarga vitoriosa após defesa de Helton a cabeceamento de Felipe. Hugo Miguel ouviu o conselho do videoárbitro e mandou seguir. Pouco depois, calafrios no Bessa: um passe atrasado de Carraça ficou muito curto e quase à mercê de Marega, mas Helton Leite foi supersónico e conseguiu o corte decisivo.
Sérgio Conceição arriscava tudo, colocando em campo Adrián López e depois Hernâni, mas parecia faltar sempre aquele extra de inspiração – como ficou bem patente no incrível falhanço de Soares já aos 90’+1’, isolado perante Helton Leite. Havia, porém, cinco minutos de descontos, e será sempre certo e sabido que o FC Porto nunca se dá por vencido. No último ataque, uma bola perdida sobrou para Soares, que na pequena área a endossou a Adrián. O remate do espanhol ainda foi travado por Gonçalo Cardoso, mas desta vez ninguém conseguiu parar a recarga vitoriosa, a cargo de Hernâni. Balde de água fria para o Boavista, que precisava deste ponto como de pão para a boca, e festa rija do lado do FC Porto – que resultou na enésima expulsão de Sérgio Conceição, depois de insultar este mundo e o outro nos festejos do golo salvador.
A redenção de Vitória A jornada 11 do campeonato nacional, que só termina esta noite com um muito interessante – e importante – Rio Ave-Sporting, fica obviamente marcada pela goleada do Benfica ao Feirense (4-0), no sábado, na ressaca da atribulada semana que quase culminou com a demissão de Rui Vitória. Após receber o voto de confiança de Luís Filipe Vieira, o técnico prometeu mudanças imediatas na equipa – aludindo à atitude e ao compromisso que os jogadores deveriam apresentar – e elas viram-se… na segunda parte.
Depois de 45 minutos onde a exibição das águias foi mais do mesmo – leia-se pachorrenta, a passo e sem ponta de criatividade -, após o intervalo o Benfica surgiu transfigurado. Alicerçado, como sempre, em Jonas, que fez questão de abrir o marcador aos 49’ com um golo genial, dos melhores do campeonato até ao momento: com o pé direito, fez uma receção orientada que deixou Briseño completamente nas covas e de pé esquerdo bateu Caio Secco, festejando num abraço coletivo aos adeptos.
A partir daqui, a velocidade surgiu e a muralha defensiva do Feirense caiu finalmente por terra. Aos 57’, já depois de um falhanço clamoroso do 10 encarnado, Bruno Nascimento fez auto-golo ao tentar evitar novo tento de Jonas; aos 68’, numa belíssima jogada de envolvimento coletivo do ataque encarnado, Rafa cimentou o estatuto de melhor marcador do Benfica esta época (oito golos); em cima do apito final, Seferovic também a picar o ponto. Por agora, os fantasmas parecem ter sido exorcizados – pelo menos desta vez não houve lenços brancos nas bancadas da Luz.
O Benfica passava momentaneamente para o segundo lugar, a um ponto do FC Porto, mas ainda faltava o Braga entrar em ação. E a verdade é que os guerreiros do Minho continuam decididos a provar que é preciso contar com eles na corrida para o título: 2-0 ao Moreirense, com o resultado selado logo aos 25’ – Wilson Eduardo marcou de penálti logo aos 12’, antes de Paulinho fechar as contas com uma finalização de grande classe. O segundo lugar está na mão, mas atenção ao Sporting de Marcel Keizer.