O Governo brasileiro voltou atrás com a candidatura a acolher no próximo ano a 25.ª Conferência sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas. Brasília defendeu a decisão com os «constrangimentos fiscais e orçamentais, que se espera manterem-se no futuro próximo».
Não obstante, e pouco tempo depois do anúncio, o Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou que já tinha pedido ao que vai ser o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Fraga Araújo, para vigiar os preparativos da futura conferência, dando uma outra razão: «As políticas ambientais não se podem intrometer no desenvolvimento do Brasil». «Hoje, a economia está quase nos eixos graças aos agronegócios, que são sufocados por questões ambientais», acrescentou o Presidente eleito. Bolsonaro afirmou ainda que se o Acordo de Paris se intrometer nos interesses brasileiros nos Andes, Amazónia e Atlântico poderá abandoná-lo.
A decisão de retirar a candidatura é uma drástica mudança de curso se se tiver em conta que, no início do mês, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Michel Temer, José Sarney Filho, tinha dito que o «Brasil está fortemente comprometido com a sustentabilidade, com a causa das alterações climáticas e tem uma forte tradição de anfitrião de grandes eventos internacionais relacionados com o ambiente e desenvolvimento sustentável». Isto apesar de entre agosto de 2017 e julho deste ano, a Amazónia ter perdido 7900 km2 de floresta, correspondendo a um aumento de 13,2% relativamente ao período homólogo do ano anterior. É a maior destruição numa década.
A mudança drástica está fortemente relacionada com o novo responsável pela pasta da política externa brasileira. Ernesto Fraga Araújo é um conhecido negacionista das alterações climáticas, tendo inclusive escrito no seu blogue, durante a campanha presidencial, que são «uma tática globalista» com o intuito de criar medo para a China «obter mais poder» no palco internacional.
Bolsonaro chegou a defender a criação de um superministério que integraria o da Agricultura e o do Meio Ambiente, algo nunca visto no Brasil democrático pós-ditadura militar. Se se tiver em conta que os dois ministérios tendem a gerir interesses antagónicos, o do Meio Ambiente seria desvalorizado face ao da Agricultura, que lida com as grandes empresas brasileiras do agronegócio. A pressão foi tão grande que Bolsonaro teve de voltar atrás com a proposta.