Pepitas de Ouro – Ilhas Selvagens

O mar ensina-nos que, mais importante que a excitação da procura e descoberta de ganhos imediatos é a sabedoria e o engenho para detetar, na imensidão do oceano, verdadeiras pepitas geradoras de valor económico, social e ambiental de forma sustentável.

Desde tempos imemoriais que a humanidade utiliza o ouro como referência de enorme valor. São abundantes as histórias de pequenas comunidades e de grandes nações que buscam incessantemente este metal precioso, na esperança de se apropriarem de grandes quantidades de valor. 

Sendo, em geral, muito difícil encontrar grandes quantidades de ouro, altamente concentrado, num só local, o momento da descoberta de grãos ou palhetas de ouro puro, denominadas pepitas de ouro, é sempre um momento de júbilo para quem se esforça na procura incessante de valor monetário “instantâneo’. Muitas vezes, parece que o valor monetário ‘instantâneo’, tem um valor percecionado, muito maior do que igual valor monetário, gerado por outros ativos que não tão ‘instantâneos’. 

O mar ensina-nos que, mais importante que a excitação da procura e descoberta de ganhos imediatos é a sabedoria e o engenho para detetar, na imensidão do oceano, verdadeiras pepitas geradoras de valor económico, social e ambiental de forma sustentável.

No século XV, o navegador Português Diogo Gomes, no regresso de uma viagem efetuada ao rio Grande (atual rio Geba, na Guiné), com o objetivo de obter informações sobre as explorações mineiras de metais preciosos no Senegal e Alto Níger cruza-se com um arquipélago, composto por pequenas ilhas, que pareciam pequenos grãos dourados no imenso azul do oceano, a que chamou de ‘Selvagens’. 

Pela descrição efetuada deste encontro, no manuscrito ‘De insulis primo inventis in oceano occidentis’, a perceção do valor destas ilhas estava muito longe de se equiparar à descoberta de ouro: – «Em certo dia, vindo eu, Diogo Gomes pela última vez da Guiné, vi uma ilha e estive n’ela, chamada ilha Selvagem. É estéril, ninguém habita aí, nem tem árvores nem águas correntes». 

Foram necessários cerca de 500 longos anos, para alguém perceber que, talvez fizesse sentido investir no valor natural da ilha, protegendo as aves que lá vivem, começando a entender que existe um grande valor intrínseco nestes pequenos grãos dourados que tem origem no complexo e vibrante ecossistema natural que este arquipélago criou no meio do oceano. Este mérito é da família Zino, pioneira nas ações de proteção das aves nas ilhas, que resultariam mais tarde na constituição de um dos primeiros parques naturais de Portugal. Jacques-Yves Cousteau também percebeu muito bem o elevado valor natural das Selvagens afirmando que ali encontrara as águas mais limpas do mundo. Atualmente, estas ilhas pristinas estão classificadas como Património Mundial da UNESCO. 

Muitas vezes se ouve dizer que Portugal tem um mar difícil que impede que nos desenvolvamos a partir dele. Não existem dúvidas de que o Oceano Atlântico que banha Portugal é agressivo, no entanto, isso não significa que valha menos que outros oceanos. O mais importante é ter a capacidade de descobrir e de valorizar as verdadeiras pepitas de ouro azul que estão mesmo à frente dos nossos olhos…

 

*Sócio da PwC