O movimento dos coletes amarelos já tinha dentro de si elementos radicais ou acabou por se vir a radicalizar progressivamente?
Penso que acabou por se radicalizar à medida que o tempo foi passando. Foi o apodrecer da situação que criou essa radicalização. Claro que havia o germe e, evidentemente, quando não se obtêm respostas para as questões acaba por se chegar a essa situação. É inevitável.
É difícil para o Governo dialogar com um movimento que não é orgânico, composto por grupos diferentes com reivindicações díspares entre si. Como pode o Governo estabelecer o diálogo com os manifestantes?
Há muitos grupos que se constituíram, com representantes um pouco por todo o lado, nós – faço parte dos Gilets Jaunes Libres, um grupo moderado – engendramos esforços para nos encontrarmos com o governo para discutir. Mas, depois, nós não estamos no fim do movimento, é preciso que o grande grupo constituído dê também esses passos.
Vocês são favoráveis ao diálogo?
Claro que sim, não vamos continuar a destruir o país. O problema é que os violentos se misturam nos protestos, os radicais incitam à violência e a situação tornou-se muito grave. Já não se consegue trazer as pessoas à razão, quanto mais falar em negociações.
É verdade que foi ameaçada de morte por defender o diálogo?
Sim, fui ameaçada de morte por outros coletes amarelos. Este movimento conseguiu transformar-se numa formidável aventura humana e, como tal, também juntou as fraquezas humanas. É isso o equilíbrio, obrigatoriamente tem de haver coisas positivas e negativas, não poderia ser de outra forma.
Pensa que hoje iremos ter outra jornada de violência como a que vimos no passado sábado, nomeadamente em Paris?
Espero que não, e nós apelamos a um movimento pacífico, no entanto os violentos não nos escutam, as pessoas que se radicalizaram também não nos escutam e pode vir a tornar-se muito grave.
Obrigaram o Governo francês a recuar e a não aumentar a taxa dos combustíveis. O que exigem agora para parar a luta?
O grande problema é que o Governo reafirmou essas medidas a 18 de novembro, na véspera das primeiras manifestações, e depois deixaram a situação deteriorar-se. O facto de o Presidente jamais nos dirigir a palavra, o facto de as decisões chegarem demasiado tarde, fizeram com que as coisas se radicalizassem: é a raiva, agora! A raiva das pessoas é tanta que já não as conseguimos parar.
O Governo abriu na semana passada uma porta para o diálogo…
É verdade, o problema é que essa decisão chegou demasiado tarde. É difícil chamar à razão uma pessoa enraivecida. Já há um movimento que se estende às escolas em certas zonas. Toda a gente grita, toda a gente apresenta todo o género de reivindicação, em vez de globalizar as coisas e discuti-las tranquilamente, como deveria ser.
E como é que se pode ultrapassar a situação?
O que se pode fazer para acalmar esta raiva? Já não se pode fazer nada.
Não há nenhuma solução?
Não há solução, a onda está em andamento e vai rebentar. Depois, pode ser que as pessoas possam ser chamadas à razão.
Acha que é preciso que o governo caia?
Penso que será preciso um gesto forte e que mude muito as coisas.