A reunião da Comissão de Defesa de quarta-feira ficou marcada por uma acesa troca de insultos. O deputado do PS Ascenso Simões e o deputado do CDS António Carlos Monteiro desentenderam-se por causa dos documentos sobre Tancos. No pico da discussão, o centrista disse que o socialista é «um arruaceiro» e este chamou «fascista» a António Carlos Monteiro. Os trabalhos tiveram de ser interrompidos e recomeçaram minutos mais tarde, depois de acalmados os ânimos.
Os deputados estavam a decidir o que fazer aos documentos sobre o furto de Tancos enviados pela Procuradoria-Geral da República à Comissão de Defesa. A matéria divide os partidos: o CDS quer que a comissão consulte os documentos, mas o PS e o Bloco não concordam. E o tema gerou uma discussão.
Ascenso Simões começou por protestar contra a duração do tempo da intervenção de António Carlos Monteiro. Já o deputado do CDS queixou-se de estar constantemente a ser interrompido pelo socialista enquanto usava da palavra. Mas o socialista negou a acusação: «Nunca falei por cima de si. O senhor não é dono no parlamento», disse. «Falou por cima de mim falou e, enquanto o presidente não me retirar a palavra, o senhor não fala», insurgiu-se o centrista.
Já com os ânimos muito exaltados, Ascenso Simões exclamou: «E mais, o senhor é um fascista!». Mas António Carlos Monteiro retorquiu que «fascista é quem não deixa falar os outros».
O socialista chegou mesmo a acusar o deputado do CDS de originar fugas de informação e desafiou-o: «Se quiser, leve-me a tribunal que eu provo-o». Depois disso, levantou-se e afirmou «sou demasiado decente para estar num parlamento consigo», acabando por abandonar a sala.
O presidente da comissão da Defesa, Marco António Costa, disse ao SOL que se tratou apenas de «uma situação de debate parlamentar mais acalorado que ficou imediatamente sanada». E garantiu que «o assunto está ultrapassado e pertence ao passado».
O social-democrata lembrou ainda que a Comissão da Defesa se «pauta por um ambiente sempre de grande cordialidade e serenidade». Prova disso, justifica Marco António Costa, é que na reunião foi aprovado por unanimidade que a Comissão da Defesa irá consultar os documentos que estão em segredo de justiça quando a comissão de inquérito pedir que o façam.
CDS requer documentos
O CDS já requereu os documentos que quer que sejam enviados à comissão de inquérito. Em declarações ao SOL, o deputado António Carlos Monteiro destacou o memorando que foi entregue pelo major Vasco Brazão ao chefe de gabinete do primeiro-ministro como um dos documentos cruciais. O centrista salientou ainda a vontade do CDS de ter acesso aos processos de condecoração dos militares que estiveram envolvidos na recuperação das armas roubadas em Tancos. «Foram feitas pelo poder político e, portanto, para nós é muito importante saber quais as razões que levaram a essas condecorações», explicou.
Para António Carlos Monteiro, é importante também consultar os resultados da auditoria à Polícia Judiciária Militar, pedida por Azeredo Lopes dias antes de se demitir, uma vez que «o prazo está a terminar». O CDS pretende ainda que sejam explicadas as razões para que, entre 2006 e 2007, tenha sido reduzido o número de militares de guarda ao paiol de Tancos de 44 para seis.
A comissão de inquérito ao furto de Tancos vai reunir-se duas vezes por semana e começa as audições às 63 personalidades em janeiro, de acordo com o calendário divulgado ontem. Segundo a Lusa, após a semana do Natal, a comissão vai também fazer visitas a Tancos e ao Campo Militar de Santa Margarida, para onde foi transferida grande parte do material após o furto, em junho de 2017.