Mudar-se de malas e bagagens para o interior de Portugal não é para todos. No âmbito do projeto “Novos Povoadores”, mais de 700 famílias foram desaconselhadas a mudar-se para o interior do país porque, segundo os responsáveis pela iniciativa, trata-se de um território “muito hostil”.
Das mais de duas mil famílias inscritas no programa que tem como objetivo ajudar na transição para o interior do país, 163 foram transferidas com sucesso, segundo o relatório de atividades relativo a 2017. Por outro lado, a maioria (705) foram desaconselhadas a migrar para esta região. Ao nível das empresas, a iniciativa instalou 165 empresas novas, criando 216 postos de trabalho.
"O território rural é um território muito hostil para quem tem poucas competências. Se uma Câmara Municipal precisa de contratar um motorista, e se uma pessoa de Coimbra ganha esse posto de trabalho, vai criar anticorpos entre os locais que estavam à procura desse emprego. Ou traz novas competências ou, caso contrário, o processo de integração vai ser complicado", explica Frederico Lucas, um dos dinamizadores do programa, à Lusa.
A situação económica das famílias também é um fator a ter em conta. Se houver uma situação económica débil, os responsáveis do programa também desaconselham a mudança. "Os territórios têm mesmo poucas oportunidades. Se as pessoas não forem capazes de transferir uma oportunidade para esse território, dificilmente teremos um resultado diferente [do que a desistência]", acrescenta. O programa teve 15 desistências em 2017.
A maioria das pessoas que acabou por desistir do projeto tinham menos de 35 anos, não tinha filhos e abandonou o projeto por ter encontrado melhores oportunidades de trabalho fora da região. "São pessoas que vão à procura de uma vida mais calma, mas há uma questão fundamental que é o emprego. Não há milagres. Existe uma ilusão que todos nós temos que as pessoas podem trabalhar à distância, mas em Portugal isso ainda não tem representação estatística", explica o dinamizador.
Idealmente, segundo os responsáveis pelo programa, um dos membros da família deveria ter um emprego que pudesse manter trabalhando de forma remota, enquanto outro membro da família iniciaria um novo projeto.
"É legítimo que as pessoas tenham sonhos. Mas quando as famílias nos contratam [o serviço do programa é pago], vamos confrontá-los com a realidade e com os riscos para poderem antecipar soluções, mas o sonho é mais do que legítimo", explica Frederico Lucas lembrando que muitas pessoas queriam mudar-se para o interior numa “lógica de fuga para a frente”, devido à crise que atingia o país.
No que toca às empresas, Frederico Lucas conseguiu captar quatro investimentos para Ribeira de Pena, Beja, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa, sendo que dois desses investimentos ultrapassaram os três milhões de euros. Em negociação estão agora 18 novos processos, com a “perspetiva de três ou quatro gerarem investimentos efetivos”.