A incerteza favorece os resultados e as receitas». Esta máxima foi atribuída por André Valente, diretor do Negócios, a um estudo do CIES Fottball Observatory.
No futebol é indesmentível que três Ligas dos Campeões consecutivas do Real Madrid e sete Campeonatos Nacionais seguidos no Calcio da Juventus criaram anticorpos, enquanto ligas profissionais em que a incerteza impere tornam-se mais atraentes.
Mas este dogma do futebol não se aplica ao ténis. Se houvesse um(a) tenista capaz de manter a invencibilidade ao longo de uma época inteira, correr-se-ia o risco de a modalidade perder audiências televisivas, afluência aos estádios e provocar algum desinteresse nos investidores.
Mas tal nunca aconteceu. Mesmo no auge das suas carreiras, Serena Williams, Steffi Graf, Martina Navratilova, Roger Federer, John McEnroe e Novak Djokovic perderam alguns encontros por ano.
Em 2018 o que mais perto esteve da perfeição foi Rafa Nadal, que só cedeu quatro encontros, tendo ganho 45. E entre as quatro derrotas, duas foram desistências por lesão, no Open da Austrália e no US Open, enquanto no desaire das meias-finais de Wimbledon, frente a Novak Djokovic, só caiu após cinco horas e 17 minutos de uma longa e épica batalha – o melhor ténis que vi este ano.
No ténis distingo o público especializado do generalista, que gosta da modalidade mas não é fanático. O primeiro grupo aprecia as chamadas surpresas mas o segundo – maioritário e em crescendo – quer é ver os melhores atingirem as fases mais adiantadas dos torneios e digladiarem-se entre si.
Por isso o Comité do Grand Slam voltou atrás na proposta de diminuir os cabeças de série de 32 para 16, evitando mais surpresas.
Repare-se no desinteresse no circuito feminino com o declínio de Serena Williams. A competitividade de oito campeãs de Majors nos últimos oito torneios do Grand Slam não só não aumentou como diminuiu a popularidade do circuito WTA, enquanto o ATP cresce com os eternos Roger, Rafa e Djoko.
Os fenómenos de fama que extravasaram a esfera do ténis para tornarem-se em ícones mundiais – Borg, Federer, Nadal, Serena ou Steffi – forjaram-se com domínios avassaladores da concorrência.
Algumas atitudes recentes menos bonitas por parte de públicos agressivos, manifestando pouco espírito desportivo, sucederam exatamente em apoios a Serena e Roger. Exige-se que os campeoníssimos sejam imortais.
Novak Djokovic que o diga. No palmarés já mereceria pertencer a este lote restrito de estrelas adoradas às quais tudo se perdoa, mas ainda não penetrou tão fundo no coração dos fãs.