A Comboios de Portugal (CP) revelou ontem em comunicado que o despedimento do diretor de material circulante, José Pontes Correia, “não tem qualquer ligação” com a decisão de adiar a manutenção dos rodados das Unidades Triplas Elétricas (UTE). A CP justificou a exoneração – que ocorreu no início de dezembro – “com a não verificação de condições objetivas para o exercício da função”.
Em causa está uma notícia veiculada ontem pelo jornal “Público” que revelava que o então diretor tinha sido despedido por não concordar com o aumento do tempo de manutenção dos rodados em mais 300 mil quilómetros. O ex-diretor terá considerado que esta decisão colocava em causa a segurança dos passageiros.
Contudo, na mesma nota, a CP assegurou que “as operações de manutenção e reparação do material circulante da CP obedecem a pareceres técnicos e decisões que, em contacto permanente com os fabricantes, asseguram os padrões de segurança ferroviária”. “No que concerne ao ciclo de manutenção das unidades UTE 2240, os pareceres técnicos da Direção de Material Circulante da CP e da EMEF foram naturalmente concordantes e suportaram a decisão do Conselho de Administração da CP, tendo concluído que esta alteração não coloca em causa a segurança da operação ou dos passageiros”, acrescentou a empresa.
De acordo com o mesmo jornal, estes comboios – usados em várias ligações regionais de todo o país, na ligação Lisboa – Tomar e Figueira da Foz – Coimbra, e ainda como substitutos de alguns intercidades com destino a Évora – devem ser alvo de uma vistoria após terem percorrido 1,7 milhões de quilómetros. É nessa avaliação que se decide se os comboios devem ou não ser trocados.
Contudo, essa manutenção obrigaria a que o material circulante ficasse parado durante todo o inverno – um incómodo para o serviço, que poderia originar várias supressões e constrangimentos no normal funcionamento da circulação, enumera o “Público”.
Críticas ao serviço
Esta notícia surge numa altura de grande contestação ao serviço da CP, que desde o verão tem sido alvo de duras críticas. Em julho, o “Público” revelou que a CP se encontrava à beira da rutura: a empresa estava com falta de comboios devido a avarias. Tudo isto porque os comboios eram muito velhos e as oficinas não tinham mão-de-obra suficiente para os manter e reparar, levando a que vários comboios fossem suprimidos. As alternativas às sucessivas supressões passavam por autocarros ou por outros comboios de categoria inferior.
Nos alfas pendulares e nos intercidades, os clientes queixavam-se de portas e de casas de banho que não funcionavam, carruagens que tinham sido vandalizadas e outras falhas na manutenção da frota.
Esta crise também afetou os comboios suburbanos, sobretudo os que circulavam na linha de Sintra. Para colmatar este problema, no início do verão, o governo e a empresa decidiram tomar algumas medidas: foram criados horários de verão, que, de acordo com o gabinete de Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, possibilitaram “a recuperação dos ciclos de manutenção dos material circulante”. Mas os horários voltaram a ser regularizados em setembro.
Depois de todas as notícias que colocavam em causa o serviço prestado pela CP, a tutela liderada por Pedro Marques anunciou que a circulação dos comboios na primeira quinzena de agosto tinha atingido uma taxa de regularidade de 99%. Estes dados preliminares representam “uma recuperação para os níveis históricos da empresa”, revelou na altura o ministro em comunicado. “A regularidade de circulação da CP, ou seja, a taxa de comboios efetivamente realizados relativamente aos previstos, foi afetada, em alguns momentos do primeiro semestre do ano e apenas em algumas linhas, por fatores operacionais especialmente relacionados com o material circulante a diesel”, adiantou.
Em julho, o ministro já tinha revelado que estava a ser preparado um concurso internacional para comprar novos comboios para devolver a CP nas várias frentes em que opera. E, ao mesmo tempo, garantiu que tinha sido autorizada a contratação de 100 pessoas para as oficinas para acelerar a manutenção do material ferroviário.
Cerca de dois meses depois, o ministro revelou que até ao final deste ano a empresa iria poder comprar 22 novos comboios – um investimento de 100 milhões de euros. Esta foi a primeira vez em 20 anos em que o Estado autorizou a compra de carruagens novas.
Além dos utentes que se têm queixado das sucessivas supressões e mau estado do material circulante, também os trabalhadores têm mostrado o seu descontentamento através da realização de várias greves.
O SOL tentou contactar a CP, mas até ao momento ainda não obteve resposta.