FIQUEI COM UMA PÉSSIMA imagem de Emmanuel Macron depois de ver uma reportagem alargada sobre a sua campanha eleitoral. O candidato a Presidente da República perguntava constantemente pelas sondagens, e antes de discursar em cada terra reunia com os assessores para identificar os temas sobre os quais devia falar – e aqueles de que devia fugir. Ali não havia princípios, nem convicções, nem objetivos: a caça ao voto era a única coisa que interessava. Percebi que se tratava de um típico ‘político de plástico’, navegando ao sabor do ar do tempo e dos media.
Toda a encenação que rodeou depois a sua investidura, muito mais preocupada com a forma do que com a substância, confirmou essa característica.
A REAÇÃO DE MACRON aos tristes acontecimentos destas últimas semanas em Paris – e um pouco por toda a França – vieram confirmar a enorme fragilidade deste homem. Perante a violência, incapaz de afirmar a autoridade do Estado, mandou num primeiro momento o primeiro-ministro recuar a toda a velocidade, fazendo uma triste figura, retirando de cima da mesa todas as medidas que tinham provocado os tumultos, designadamente a subida dos combustíveis.
E no último fim de semana, perante novos desacatos, Macron falou aos franceses para dizer que recuava ainda mais: anunciou o aumento do salário mínimo, um bónus pelo Natal, livre de impostos, não taxação das horas extraordinárias, etc., etc. Transido de medo, Macron tentava desmobilizar os manifestantes oferecendo-lhes prendas. Foi uma intervenção lamentável, indigna de um Presidente da República.
MACRON PORTOU-SE como um paizinho assustado que, perante uma birra do filho, para o calar, lhe dá o que ele exige. Claro que, percebendo a fraqueza do pai, o menino irá fazendo cada vez mais birras, certo de que assim conseguirá o que pretende. E o pai irá de cedência em cedência, até perder por completo a autoridade – e o filho perder o respeito por ele. Escusado será dizer que uma criança educada assim se tornará muito provavelmente uma criatura birrenta, caprichosa, a quem a vida trará muitos dissabores. Não tendo ninguém capaz de a afrontar, habituar-se-á a não ter limites.
A CEDÊNCIA DE EMMANUEL Macron aos responsáveis pelos tumultos terá o mesmo tipo de consequências.
Cedendo à desordem, Macron premiou os desordeiros. Foi como se lhes dissesse: ‘Fizeram muito bem em protestar, em queimar carros, em destruir lojas, e eu vou compensá-los por isso. Eu estava errado e vocês é que estavam certos quando partiram tudo’.
Assim, no futuro, sempre que quiserem mais alguma coisa, os desordeiros já sabem o que fazer: partir, estragar, provocar distúrbios, na certeza de que o Presidente cederá. É a receita para obterem o que querem.
MAS O RECUO DE MACRON terá outra consequência, igualmente perversa. Leva as pessoas pacatas a pensar: se ele recuou, é porque a medida não era assim tão necessária. Se ele pôde ceder tão facilmente aos manifestantes, é porque aquele dinheiro não fazia falta. Mas, sendo assim, qual a razão para ter feito os aumentos? E se tinha margem para baixar os impostos, por que não o fez antes? Por que esperou pelos desacatos? E se havia condições para subir o salário mínimo, por que não o subiu?
Ou seja, Macron aparece hoje perante todos os franceses como um Presidente da República que faz as coisas em cima do joelho, sem uma análise cuidada – ou então impõe medidas por capricho, sem serem verdadeiramente justificadas.
UMA COISA É CERTA: se Emmanuel Macron quiser voltar a subir os impostos, ou aumentar os combustíveis, ou qualquer outra medida impopular, não poderá fazê-lo – porque as pessoas apanharam o seu fraco e não permitirão. E não serão só os que se revoltaram agora – serão todos os outros. Que, com legitimidade, duvidarão de que as medidas resultem mesmo de uma necessidade do Estado e não possam ser revertidas.
Macron perdeu por completo a autoridade. Está refém das massas. Não pode fazer o que se impõe – só fará o que as massas deixarem. Confesso que nunca tinha visto um Presidente da República assim. Tão dependente da multidão. Ainda por cima, o Presidente de um grande país como a França.