No caminho de abertura e reformas da China, o Partido Comunista Chinês tem desempenhado um papel fundamental e assim vai continuar a ser. Discursando no aniversário dos 40 anos da abertura do país, o presidente chinês, Xi Jinping, falou de um processo que não foi fácil e assim continuará, cheio de “riscos e desafios no futuro”.
“Cada passo da reforma e da abertura não será fácil e enfrentaremos todo o tipo de riscos e desafios no futuro e até podemos encontrar marés terríveis e inimagináveis e horríveis tempestades”, disse o chefe de Estado esta terça-feira no Grande Salão do Povo.
Sem entrar em pormenores sobre quais os principais desafios que a China terá de enfrentar no futuro próximo e a médio e longo prazo, o chefe de Estado chinês passou quase hora e meia a traçar conclusões gerais sobre o desenvolvimento económico e social do país nestas quatro décadas e a prometer “milagres que impressionarão o mundo”, sem nunca chegar a defini-los.
“As práticas de reforma e abertura nos últimos 40 anos mostraram-nos que a liderança do Partido Comunista Chinês é um caráter fundamental do socialismo com características chinesas”, sublinhou Xi, acrescentando que “leste, oeste, sul, norte e no meio, o partido dirige tudo”. E assim deverá continuar a ser no futuro, na perspetiva do presidente.
“Só melhorando a liderança e a governança do partido” poderá a China “assegurar que o barco da reforma e da abertura continue a navegar”, explicou: “Para avançar nas reformas e na abertura num país com cinco mil anos de civilização e uma população de 1300 milhões não há manuais com regras de ouro ou professores que possam ser arrogantes para o povo chinês.”
Xi citou então o pai da literatura moderna chinesa, Lu Xun, para perguntar “o que é uma estrada? Um caminho trilhado onde antes não havia estrada e uma passagem aberta desde um lugar onde apenas havia espinhos”. E deixou a seguir o aviso, “em relação a tudo aquilo que tem de ser mudado ou pode ser mudado, mudaremos; mas para tudo aquilo que não deve ser mudado ou não pode ser mudado, de forma resoluta não mudaremos”.
Em relação à política externa, sem nunca se referir aos Estados Unidos ou à atual guerra comercial entre Pequim e Washington, Xi reiterou que a China não procura a hegemonia, mas a sua aproximação ao centro do palco mundial é hoje “internacionalmente reconhecida” e dessa forma pretende continuar a contribuir para a paz mundial com “a sabedoria chinesa, soluções chinesas e o poder chinês”.
“A China nunca crescerá à custa dos interesses de outros países, mas nunca abdicará dos seus legítimos direitos e interesses”, disse Xi, que voltou a afirmar que “o desenvolvimento da China não representa uma ameaça para nenhum país. Seja qual for a dimensão do desenvolvimento, a China nunca procurará a hegemonia”.
Reforma e abertura são as definições usadas na China para as mudanças económicas e políticas levadas a cabo pelo governo liderado por Deng Xiaoping, depois de décadas de fome e caos sob a liderança de Mao Tsé Tung e a loucura da Revolução Cultural. Pela primeira vez desde a criação da República Popular da China, em 1949, o Estado aceitava a existência de empresas privadas e permitia aos agricultores vender o excedente da sua produção nos mercados.
Quando Deng fez, a 18 de dezembro de 1978, o discurso considerado como o início de toda a mudança, a China tinha um PIB de 150 mil milhões de dólares; hoje, quatro décadas volvidas, ultrapassa os 12 mil biliões de dólares.
“A reforma e abertura é uma grande revolução na história do povo chinês e da nação chinesa”, disse Xi, antes de adicionar que “passadas quatro décadas, a China entra numa nova era”, uma era em que “não se pode desenvolver de forma isolada do mundo, mas o mundo também precisa da China para a prosperidade global”. Um discurso que não foi bem recebido pelos mercados asiáticos, com as bolsas de Xangai e de Hong Kong a caírem ainda Xi falava, tendo Tóquio fechado com perdas de 1,8% e Sidney com mais de 1%.