O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu antecipar a saída do secretário da Defesa, Jim Mattis, em dois meses depois deste último se ter demitido na quinta-feira passada em protesto pela decisão de os Estados Unidos retirarem as suas forças da Síria. Mattis anunciou que abandonaria o cargo a 28 de fevereiro de 2019. A antecipação foi, mais uma vez, comunicada ao mundo através do Twitter.
"Tenho o prazer de anunciar que o nosso muito talentoso vice-secretário da Defesa, Patrick Shanahan, irá assumir o título de secretário de Defesa interino a partir de 1 de janeiro de 2019. Patrick tem uma longa lista de sucessos enquanto vice-secretário e na Boeing. Ele será excelente!", escreveu Trump na rede social.
Além da demissão de Mattis, também o responsável norte-americano pelo combate contra o Estado Islâmico na Síria, Brett McGurk, se demitiu com fortes críticas à decisão de Trump. Ambos temem que a saída precoce das forças norte-americanas do teatro de operações sírio deixem os aliados curdos dos EUA sem ajuda face ao avanço da Turquia no terreno. "Os aliados são muito importantes, mas não quando se aproveitam dos EUA", reagiu Trump.
Mas não foi apenas a Síria que pesou na decisão de Mattis, mas também o Afeganistão. Trump pretende reduzir o contingente norte-americano no país em quase metade, obrigando o dispositivo militar a ter de optar entre operações de treino e aconselhamento às forças armadas afegãs e às de combate direto contra os talibãs. Mattis defende que o dispositivo se deve manter enquanto se procura uma solução diplomática para o conflito e que caso os EUA abandonem o Afeganistão este se torne novamente numa base de operações para organizações terroristas, à semelhança do que acontecia antes da invasão norte-americana de 2001.
A decisão de Trump em antecipar a saída de Mattis estará relacionada com os fortes ataques de que o primeiro tem sido alvo na imprensa norte-americana por ter anunciado as decisões de sair dos teatros de operações. A edição de hoje do "New York Times" afirma que o presidente ficou enraivecido por a imprensa ter coberto a demissão de Mattis de uma perspetiva que parece ser de repreensão para com o chefe de Estado.
No sábado, e com as críticas a subirem de tom, Trump escreveu no Twitter: "Quando o presidente Obama despediu ingloriamente Jim Mattis, eu dei-lhe uma segunda oportunidade. Alguns pensaram que não o devia fazer, outros que sim. Relação interesante, mas também lhe dei todos os recursos que ele realmente nunca teve".
A demissão de Mattis não foi bem recebida entre os aliados dos EUA, principalmente entre os europeus. O ainda em exercício secretário de Defesa é visto pelas capitais europeias como ator chave para tentar refriar Trump nos seus impulsos mais agressivos e belicistas na política externa, como aconteceu por exemplo na troca de twittes com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e na manutenção dos acordos internacionais e alianças históricas.