Os Estados Unidos não vão retirar soldados do Iraque. Esta foi a principal mensagem da viagem surpresa do presidente Donald Trump, ao Iraque. E se decidiu retirar as tropas da Síria, abandonando os curdos, Trump garantiu que o Iraque pode vir a ser um ponto de entrada no país de Bashar al-Assad. “Podemos usar esta base se quisermos fazer algo na Síria”, disse Trump aos soldados da base Al-Assad, na parte ocidental do Iraque e a pouco mais de 200 quilómetros da Síria.
Recorde-se que o antigo presidente Barack Obama retirou a grande maioria das forças norte-americanas do país em 2011, mas, em 2014, decidiu reenviar soldados a pedido do governo iraquiano. O Estado Islâmico tinha acabado de surgir e parecia imbatível no campo de batalha. Hoje, segundo dados do Departamento de Defesa dos EUA e das Nações Unidas, pelo menos 30 mil combatentes do EI mantêm-se no Iraque e na Síria, com pequenas bolsas de resistência.
A viagem inesperada e o mais recente anúncio de Trump surgem uma semana depois de o presidente ter anunciado de surpresa a retirada total da Síria e de metade do contingente norte-americano no Afeganistão – cerca de sete mil num total de 14 mil soldados. Surpreendeu e enfureceu os seus aliados e declarou o Estado Islâmico “morto”, forçando a demissão em protesto do secretário de Defesa, Jim Mattis, e do responsável pelo combate na Síria, Brett McCurk. As crítica não desciam de tom e Trump usou a viagem para tentar acalmar os ânimos.
O líder da Casa Branca tentou emendar a mão, mas nem tudo correu pelo melhor, conseguindo enfurecer mais aliados: deputados iraquianos, que exigiram a retirada imediata de todas as forças norte-americanas do Iraque acusaram-no de arrogância, por não ter avisado que ia visitar o país. “O parlamento deve claramente e com urgência expressar o seu ponto de vista sobre as contínuas violações da soberania iraquiana pelos norte-americanos”, desafiou Salam al-Shimiri, deputado leal ao clérigo Moqtada al-Sadr. Uma sessão parlamentar extraordinária deverá ser agendada nos próximos dias. Pelo meio, também não faltaram críticas aos aliados, afirmando que os EUA já não são os “palermas do mundo”, que se deixam aproveitar.
O comandante supremo dos EUA visitou os mais de cinco mil soldados destacados no Iraque, entre os quais centenas de elementos das forças especiais. Foi precisamente em relação a estes que o presidente dos EUA cometeu um erro que lhes poderá ter colocado em causa a segurança: divulgou um vídeo no Twitter a cumprimentar elementos das forças especiais da marinha mostrando os seus rostos. “A Melania e eu estamos honrados por visitar as nossas incríveis tropas na base aérea de Al-Assad, no Iraque”, escreveu Trump.
“Os nomes, caras e identidades do pessoal envolvido em operações ou atividades são normalmente mantidos em segredo”, explicou Malcolm Nance, antigo especialista dos serviços de inteligência da marinha norte-americana, à revista “Newsday”. Os riscos para os soldados não podem ser ignorados: “Não há como negar que é aquilo que está a fazer”.
Mas este não foi o único erro de Trump e não demorou muito até ser ofuscado por um outro politicamente mais grave. Num discurso, Trump afirmou que aumentara o salário dos militares em 10%, o maior dos últimos dez anos. “Dei-vos um grande aumento”, disse Trump. “Podia ter sido de 3%. Podia ter sido de 4%. Eu disse: ‘Não. Faça um de 10%. Faça mais de 10%’”. No entanto, ao contrário do afirmado pelo chefe de Estado, o aumento real dos salários foi de 2,6% e, segundo o Departamento de Defesa, desde 1983, no mandato de Ronald Reagan, que os soldados recebem aumentos salariais todos os anos.