Nas últimas semanas, várias chefias do Hospital Dona Estefânia demitiram-se, invocando diversas razões – desde a falta de médicos à ausência de condições clínicas e humanas, envelhecimento do corpo clínico, etc.
Para quem é utente assíduo deste hospital público pediátrico de Lisboa, são preocupantes estas decisões e as suas repercussões.
E sendo um hospital indispensável para a vida de muitas crianças e de muitas famílias, faz sentido que se peça publicamente aos responsáveis da política de saúde do nosso país que tudo façam para que os constrangimentos e problemas existentes sejam o mais rapidamente ultrapassados.
Porque só quem não conhece a importância do Hospital Dona Estefânia e não é seu utilizador regular poderá achar que é apenas mais um hospital público, como outros, que poderá funcionar com constrangimentos e falta de meios. Ora, não é assim.
Como pai de três filhos, eu e a minha mulher temos sido utilizadores regulares deste estabelecimento hospitalar. E um dos nossos filhos tem exigido cuidados frequentes, sobretudo nos últimos anos. A vários títulos: desde internamentos hospitalares urgentes e não urgentes, consultas na urgência, consultas de diversa ordem, acompanhamento médico por parte de profissionais do hospital. E existe um conjunto de denominadores comuns em todos estes relacionamentos: competência, proximidade, humanismo e tudo o que é possível fazer de dedicação ao utente, neste caso, ao nosso filho.
Num tempo em que é moda, infelizmente, dizer mal de quase tudo e de todos – e em particular daquilo que tem que ver com serviço público – tenho de ser frontal, justo e grato. O Hospital Dona Estefânia presta – e eu tenho-o sentido não propriamente pelas razões que mais desejaria – um excelente serviço. De todas as suas equipas, só tenho a dizer o melhor. Em momentos de aflição, quase desespero, vividos várias vezes, sempre recebi profissionalismo, humanismo, dedicação, proximidade e muito mais.
Desde o pessoal médico às equipas de enfermagem, às equipas de auxiliares técnicos, aos funcionários administrativos, à segurança. Tudo tem estado conforme às necessidades dos momentos (e até, muitas vezes, ultrapassando-as). Todas essas pessoas merecem um elogio público. Quando são conhecidas as dificuldades que têm invocado para cumprir o seu trabalho, é justo que se diga que, com os meios disponíveis, fazem autênticos milagres.
Não esqueço muita coisa que por lá vivi intensamente. Pequenos gestos que valem mais que os grandes gestos. Desde um simples mas reconfortante sorriso quando não conseguimos deixar o leito de um filho no meio de dor e incerteza, até à simples oferta de uma peça de fruta quando, madrugadas seguidas sentados numa cadeira, não conseguimos fechar olhos.
Aprendi nos últimos anos algumas coisas na Estefânia. Uma delas é que somos muito pequeninos e impotentes perante o infortúnio e a incerteza de parte das nossas vidas. Mas também conheci o quanto a humanidade e o carinho nos podem confortar em tempos difíceis. E saboreei o quanto é verdade que quem faz bem a um nosso filho fica para sempre no nosso coração.
É isso que acontece comigo: a Estefânia e as suas gentes, muitas delas quase anónimas, ficaram para sempre no meu coração. E sei que são muitas as crianças, os pais, as famílias que sentem o mesmo. Portugal precisa da Estefânia. No presente e sobretudo no futuro. Porque a Estefânia é um farol de esperança num futuro melhor.
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