«Nas redes sociais um louco ou um miúdo podem cravar-nos um prego».
Carlos Carvalhal
Teve 18 primeiros-ministros, dos quais quatro chefiaram governos provisórios (Palma Carlos, Vasco Gonçalves, Pinheiro de Azevedo e Almeida e Costa) e 14 chefiaram os chamados governos constitucionais.
Vários presidiram a governos até a entrada de Portugal na CEE, e outros (sete, concretamente: Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, Passos Coelho e António Costa) após a entrada na CEE.
De forma clara, é possível concluir que a entrada de Portugal no projeto europeu, no início de 1986, veio introduzir maior estabilidade e durabilidade na formação, no funcionamento e no tempo de funções dos governos em Portugal.
Mas, nas últimas décadas, quantos primeiros-ministros perderam eleições legislativas e quantos ganharam? De todos eles, sete não perderam nem ganharam eleições, por serem chefes de governos provisórios ou de iniciativa presidencial (Palma Carlos, Vasco Gonçalves, Pinheiro de Azevedo, Almeida e Costa, Nobre da Costa, Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo). Mário Soares venceu três eleições e perdeu duas; Sá Carneiro venceu duas eleições e perdeu duas; Cavaco Silva venceu três eleições legislativas, António Guterres duas, Durão Barroso uma, Santana Lopes perdeu uma, José Sócrates venceu duas e perdeu uma, Passos Coelho ganhou duas (mas só foi primeiro-ministro uma vez) e António Costa perdeu uma (mas conseguiu ser primeiro-ministro).
Mas, olhando para as mais de quatro décadas de democracia representativa e demo liberal, quantas eleições legislativas (ou equiparadas) tivemos em Portugal nesses períodos, e quantos governos cumpriram ou não as legislaturas? Quem perdeu (para quem) desde 1974 até 2018?
Neste período de tempo em que ocorreram 15 eleições legislativas, cumpriram a legislatura os seguintes governos constitucionais: o XI e o XII, liderados por Cavaco Silva, o XIII, liderado por António Guterres, o XVII, liderado por José Sócrates, e o XIX, liderado por Passos Coelho. Todos os outros ficaram a meio da legislatura.
E, neste período, quantos líderes de oposição teve Portugal (e de que partidos) e quantos chegaram e não chegaram a primeiro-ministro (fosse por derrota nas urnas ou por demissão ou afastamento interno dos seus partidos)?
Líderes da Oposição tivemos muitos: Sá Carneiro, Mário Soares, Almeida Santos, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Ferro Rodrigues, José Sócrates, António José Seguro, António Costa, Pinto Balsemão, Nuno Rodrigues dos Santos, Mota Pinto, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite, Pedro Passos Coelho e Rui Rio.
E quantos líderes partidários do PS e do PSD chegaram a primeiro-ministro e a Presidente da República? A primeiro-ministro chegaram seis do PSD (Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes e Passos Coelho).
Do PS chegaram quatro: Mário Soares, António Guterres, José Sócrates e António Costa. E à Presidência da República só chegaram quatro: dois do PS (Mário Soares e Jorge Sampaio) e dois do PSD (Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa).
Com base nestes dados da nossa história política contemporânea, conclui-se que o ‘lugar’ mais complexo no sistema político português é o de líder da oposição. Poucos resistiram. E, dos que singraram, alguns não foi devido ao seu mérito mas a circunstâncias políticas particulares. Muitos não resistiram aos ciclos políticos e económicos. Gente competente. Mas estavam (com exceções) no sítio errado e na circunstância adversa para atingir os objetivos.
Ser líder da oposição em Portugal não é ser igual em tudo o que é o ritual do politicamente correto. Ninguém ganhou eleições a um Governo, apenas e só, fazendo uma oposição ‘encarniçada’ e por vezes de claque.
Rui Rio anunciou ao que vinha. Na forma e no conteúdo. Primeiro Portugal e só depois a lógica partidária. Contra a corrente, é justo dizer-se, está a cumprir o que disse que iria fazer quando se propôs para presidente do PSD e líder da oposição.
Está tudo na sua moção de estratégia global e no acervo de intervenções que fez nos últimos anos, em vários fóruns que não só partidários. Deixemo-lo ser o que sempre foi e marcar as diferenças para o atual Governo socialista e da extrema-esquerda, sem pôr em causa os superiores interesses de Portugal e dos portugueses.
A história política contemporânea atesta-nos que têm sido poucos os líderes da oposição que chegam a primeiro-ministro. O que por si só permite concluir que o exercício de funções dentro do seu partido é uma tarefa dificílima.
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