Longe vão os tempos em que um ministro desembaraçado e cheio de si mesmo declarava impante que um aeroporto na margem sul não aconteceria nunca.
‘Jamais’ era, num assomo de determinação francesa, a palavra de ordem.
A um canto ficava definitivamente arrumado o LNEC e o seu parecer que definiam Alcochete como a localização mais adequada.
Pelo caminho caíram a Ota e Monte Real.
O que aconteceu entretanto anunciou aquilo a que hoje assistimos.
A gestão dos aeroportos mudou de mãos, a TAP tem uma estrutura diferente, os estudos de impacte ambiental têm outro lugar na escala de valores, o voluntarismo comanda e Lisboa é o único objetivo estratégico verdadeiro da procura turística.
Quando se anunciam os números previstos para os passageiros a desembarcar em Lisboa está tudo dito.
Estará Lisboa preparada para isto? Aguentará mais? Até quando?
O tal estudo estratégico devido fica bloqueado, o que o mesmo é dizer fica dado como inútil.
A hipótese de ampliar o efeito aeroporto pelo território nacional cai por terra.
A questão é, nos nossos dias, como resolver depressa um problema ingente.
Condicionantes da solução:
– Temos dinheiro para uma obra como devia ser? Não.
– Temos tempo para planear o essencial? Não.
– Temos paciência para aguardar pelos estudos de impacte ambiental? Não.
– Podem as expectativas geradas no setor turístico em Lisboa diminuir? Não.
Portanto, vamos presumir que tudo correrá bem.
Um contrato entre o Estado e a concessionária dos aeroportos estipula que podem começar os trabalhos de ampliação da Portela, englobados como estão no outro projeto do Montijo.
Só que para que tudo corra bem, o estudo de impacte ambiental deverá ser aprovado.
O que diz o primeiro dos ministros? Que o Montijo não começará sem que a lei se cumpra, que se isso não acontecer um problema muito sério surgirá. Ou sim, ou sopas.
Sabe-se que a grande vantagem da solução proposta é a participação significativa do investimento não público. Claro que, entenda-se, cabendo aos investidores, em contrapartida, o recebimento das generosas taxas aeroportuárias, cujas se têm revelado um negócio da China.
Mas não se refere o montante do investimento público complementar necessário, nem a possibilidade de indemnização aos investidores privados no caso da inviabilidade ambiental.
É, portanto, uma fuga para a frente.
Seja o que Deus quiser…
É uma forma de governar que privilegia a decisão ao estudo, em ocasião oportuna.
E é, principalmente uma hábil forma de construir uma cortina de fumo.
As notícias do número de funcionários públicos sem atualização de vencimento, o trágico congestionamento dos serviços hospitalares, o crescendo das dívidas da saúde, perdem valor.
Atentas as eleições próximas, um governo que andou a engonhar e a frenar o investimento público durante todos estes anos tira-se de cuidados e muda de personalidade.
Quer, ao mesmo tempo, conquistar o país para a solução e marcar uma diferença.
Em paralelo, no Parlamento, discutir-se-á o plano de investimentos do setor público.
De todos menos destes.
Será a ocasião para ver como todos se dividem e como este governo governa.
Como se borrifa no ambiente de incerteza e na incerteza do ambiente.
Voemos, pois.