Foi com a ameaça de "devastar economicamente a Turquia" que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu às mais recentes notícias de o governo turco se estar a preparar para entrar na Síria para atacar as mílicas curdas das Unidades de Proteção do Povo (YPG, sigla em inglês). E, pelo meio, apelou aos curdos para não provocarem Ancara.
"Vou devastar economicamente a Turquia se atacar os curdos", escreveu Trump na rede social Twitter. "Da mesma forma, também não queremos que os curdos provoquem a Turquia".
O chefe de Estado norte-americano defende a criação de uma zona segura num diâmetro de 20 milhas (32 quilómetros), mas não avançou pormenores sobre como pretende implementá-la nem quais os atores que nela poderão participar.
Não obstante, voltou a reafirmar a intenção de retirar os cerca de dois mil soldados norte-americano em território sírio, garantindo ao mesmo tempo que os EUA continuarão a atacar "o pequeno califado territorial do Estado Islâmico remanescente, e de muitas direções. Vamos atacar novamente a partir da base vizinha existente".
Na visita que Trump fez à base norte-americana em Al-Asad, no Iraque, deixou em aberto a possibilidade desta servir como possível ponto de partida para operações ofensivas contra o Estado Islâmico na Síria.
"A Rússia, o Irão e a Síria têm sido os maiores beneficiários da política de longo prazo dos EUA para destruir o Estado Islâmico na Síria – inimigos naturais. Também beneficiamos, mas é tempo de trazer as tropas para casa", afirmou o chefe de Estado. "Parem com esta guerra sem fim!".
Quem não gostou dos tweets de Trump a ameaçar Ancara foi o porta-voz do presidente turco, Ibrahim Kalin, que num tweet de resposta escreveu: "Senhor Donald Trump, é um erro fatal equacionar os curdos sírios com o PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistão, considerado organização "terrorista" por Ancara], que está na lista terrorista dos EUA, e o seu braço sírio PYD/YPG".
"Terroristas não podem ser os vossos parceiros e aliados. A Turquia espera que os EUA honrem a nossa parceria estratégica e que não queiram que fique ensombrada por propaganda terrorista", continuou o porta-voz.
Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlut Cavusoglu, afirmou que Ancara irá avançar com uma ofensiva contra os curdos independentemente da retirada anunciada por Washington se ter ou não concretizado. "Se [a retirada] for atrasada com desculpas ridículas, como a dos turcos estarem a massacrar os curdos, o que não reflete a realidade, vamos implementar essa decisão", disse o responsável pela diplomacia turca, acrescentando: "Não precisamos de autorização de ninguém".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, também se recusou, na semana passada, a encontrar com o conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, quando este visitou Ancara. Bolton queria concertar esforços com o governo turco para a retirada norte-americana da Síria e os termos em que os curdos seriam protegidos. Erdogan recusa liminarmente qualquer compromisso relativamente aos curdos, considerando que Bolton "cometeu um erro grave" ao ter ponderado a mera possibilidade de um acordo.
Washington anunciou que iria retirar as suas forças da Síria há pouco mais de duas semanas atrás, levantando críticas por a decisão deixar os seus aliados curdos ao abandono contra o Estado Islâmico, mas principalmente contra os turcos, que há muito os vêem como uma ameaça na região.