Dificilmente se conseguiria escrever, para o arranque da segunda volta do campeonato, um guião tão fiel aos primeiros 18 jogos como aquele a que se pôde assistir neste fim de semana. O FC Porto, líder incontestado, passeou a sua superioridade numa deslocação teoricamente complicada perante um Chaves moribundo (1-4); o Benfica saiu da dupla visita a Guimarães com um segundo triunfo arrancado a ferros – e potencialmente injusto (0-1); o Braga voltou a mostrar todos os atributos que justificam a candidatura ao título, vencendo de forma concludente na Choupana (0-3); e o Sporting suou as estopinhas para ultrapassar uma das equipas surpresa da competição, o Moreirense – venceu por 2-1, mas demonstrando ainda enormes problemas de identidade, algo que se verificava com José Peseiro e que Marcel Keizer ainda não conseguiu retificar.
Vira o disco e toca o mesmo, no fim de contas, com a classificação a demonstrar fielmente o que tem acontecido ao longo de 18 jornadas. Os dragões caminham tranquilamente para o bicampeonato, com cinco pontos de vantagem em relação às águias, com quem partilham o melhor ataque (38 golos). Os 11 golos sofridos, porém, não encontram concorrência e demonstram em pleno a maior segurança e maturidade dos azuis-e-brancos em comparação com os mais diretos adversários. Que seguem numa luta taco a taco, separados por apenas três pontos: o Benfica com uma vitória a mais que Braga e Sporting e mais três golos marcados, o que ajuda também a explicar o segundo posto. Entre os guerreiros do Minho e os leões, a grande diferença está nos empates e derrotas: os bracarenses têm quatro igualdades e apenas dois desaires, sofridos contra FC Porto e Benfica, enquanto os verde-e-brancos têm menos dois empates e mais duas derrotas. Tudo somado, acaba por fazer toda a diferença.
Com um Tiquinho assim… O triunfo do FC Porto em Chaves, já se disse, não sofreu qualquer contestação. Depois do nulo em Alvalade, que pôs fim à série de vitórias consecutivas dos dragões (ficou-se pelas 18, igualando o registo histórico do Benfica em 2010/11), e do suado triunfo em Matosinhos para a Taça de Portugal (1-2 após prolongamento perante o secundário Leixões), os comandados de Sérgio Conceição surgiram em Chaves dispostos a resolver rapidamente a questão.
E assim aconteceu: ao intervalo já venciam por 2-0, com bis de Tiquinho Soares (24’ e 42’). Que não se ficou por aí: aos 68’ consumou o hat-trick, igualando o registo de 12 golos pelo FC Porto conseguido há duas épocas – e superando desde já o da temporada passada, em que fez 11. O Chaves ainda reduziu aos 76’, num penálti cometido por Pepe (em estreia a titular na liga) e convertido por Bruno Gallo, mas o reforço Fernando Andrade, a meias com o antigo portista Nuno André Coelho, viriam a aumentar ainda mais a vantagem dos dragões a três minutos dos 90.
Pouco antes, o Braga havia saído também cheio de sorrisos da Madeira. Depois de uma primeira parte morna, o festival de golos: Ricardo Horta abriu as hostilidades aos 61’, Murilo deu-lhe seguimento aos 73’ e Paulinho fechou as contas aos 86’. Os guerreiros de Abel ultrapassavam o Benfica à condição e garantiam pelo menos a permanência da vantagem pontual em relação ao Sporting.
Faltava ainda entrar em campo a equipa agora às ordens de Bruno Lage. A tarefa não se afigurava nada fácil – ainda há poucas semanas, o Sporting tinha caído em Guimarães – e assim aconteceu: o Vitória disputou o jogo palmo a palmo com os encarnados e foi até numa fase em que estava por cima, já no último quarto de hora, que o único golo do jogo acabou por surgir: um passe extraordinário de Gabriel rasgou a defesa minhota e encontrou André Almeida, que cruzou rasteiro para o encosto triunfal de Seferovic (o seu 11.o golo na época, igualando o melhor registo da carreira, conseguido em 2014/15 no Eintracht Frankfurt), que havia entrado minutos antes.
Por último, o Sporting, que entrou como um verdadeiro leão: Nani marcou logo aos três minutos, com Bruno Fernandes a aumentar aos 26’. A partir daí, todavia, a versão imperial do Sporting de Keizer voltou a dar lugar à faceta leãozinho do Sporting de Peseiro e o Moreirense cresceu: Heriberto Tavares reduziu aos 34’ e só por manifesta infelicidade o segundo golo dos cónegos não surgiu. Refira-se, ainda assim, que também os leões dispuseram de várias ocasiões para dilatar o marcador, mas Bas Dost voltou a estar em noite não – e já lá vão quatro jogos sem marcar.
Venha a final four da Taça da Liga As atenções voltam-se agora para a primeira grande decisão da época: a Taça da Liga, cuja final four arranca já amanhã, em Braga, com o embate entre Benfica e FC Porto. As águias são recordistas de vitórias na competição (sete triunfos em 11 edições), enquanto os dragões ainda procuram a primeira conquista (foram apenas finalistas vencidos em duas ocasiões) naquela que é a única prova em falta no vastíssimo espólio de troféus de Pinto da Costa.
Na quarta-feira ficará definido o segundo finalista, com o anfitrião Braga a receber o Sporting, campeão em título depois do triunfo no desempate por grandes penalidades da última temporada sobre o Vitória de Setúbal. Os minhotos contam igualmente com uma taça no palmarés, conquistada em 2012/13 perante o FC Porto.