“Se estas são as pessoas que nos defendem, como é suposto sentirmo-nos?” A questão foi levantada por Alícia Semedo, uma das moradoras do Bairro da Jamaica que participou na manifestação contra a violência policial e o racismo, que se realizou esta segunda-feira no centro de Lisboa.
“Vim em defesa do que aconteceu no meu bairro. Não tanto pela questão do racismo, mas principalmente pela violência policial”, explicou ao i. Em causa está a intervenção da PSP, no domingo passado, naquele bairro do Seixal, que resultou em vários feridos e levou à detenção de uma pessoa.
A PSP foi chamada ao local para conter uma “desordem entre duas mulheres”. Quando os agentes lá chegaram, segundo a PSP, um grupo de homens começou a atirar pedras, tendo começado os confrontos entre civis e polícias. No incidente ficaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente da PSP que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Pouco depois da intervenção, foi divulgado nas redes sociais, um vídeo amador, no qual é possível ver-se moradores do bairro a serem agredidos por polícias.
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Cerca de 200 pessoas juntaram-se em Lisboa para contestar aquilo que consideram ser violência policia. Alicia disse ao i que conhece um dos rapazes que aparecem nos vídeos e que houve, de facto, excesso de força na intervenção da PSP. “A mãe dele pôs-se no meio [entre o filho e os polícias] e foi atirada ao chão. Não havia necessidade de usar a força para a afastar", defende.
O protesto acabou por ficar marcado por momentos de tensão, com quatro detenções. A polícia foi mesmo obrigada a dispersar os manifestantes, com recurso a balas de borracha, uma decisão que, para Alicia Semedo, foi exagerada. “Os polícias sabiam quem estava a mandar as pedras, não se justificava dispararem as balas de borracha”, disse ao i. “Vi um rapaz a ser atingido na cara. Imaginem que acertavam no olho?”, questionou.
Ao início da noite, os ânimos já estavam mais calmos, mas os moradores do Bairro da Jamaica continuavam revoltados. “É a hora da mentira! É a hora da mentira!”, gritava um manifestante enquanto o comissário da PSP Tiago Garcia fazia o ponto da situação. Os manifestantes acabaram por dispersar e a baixa de Lisboa voltou à normalidade.