O músico Dino D’Santiago usou a sua conta oficial no Instagram para revelar que foi vítima de violência policial e racismo.
Tudo aconteceu em 1992, quando, segundo o artista, a polícia militar “invadiu” o Bairro dos Pescadores, em Quarteira, e arrombou a porta de sua casa. “Por nos estarmos a preparar para ir para a escola, eu, o meu irmão Elisio e a minha caçula Ligia, assistimos pela primeira vez a um choro desesperado da nossa sempre forte Mãe! O pai já tinha madrugado para ir exercer o seu trabalho como mais um pedreiro cabo-verdiano”, escreveu.
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O músico diz que a polícia estava à procura de droga e dinheiro proveniente do tráfico de estupefacientes. “Ainda hoje tento perdoar o que vi naquela manhã, de G3 apontadas aos nossos rostos quando saímos para a escola, com a forma agressiva com que revistaram as nossas mochilas que o único peso que carregavam provinha dos livros. Esta história aconteceu no início dos anos 90 em Quarteira, sul de Portugal, mas é comum a todos os bairros sociais representados de Norte a Sul do País”, escreveu.
“O choro da dor de uma Mãe é a maior cicatriz que um Ser Humano carrega no seu corpo e alma. E acreditem que o que mais me dói neste momento, é ver as reações de puro ódio, daqueles que exclamam ignorantemente "Se não estão bem aqui, porque não vão para a vossa Terra?" Fomos criados pelos nossos pais a não falar de política, por ser perigoso, a não levantar a voz a uma autoridade por ser perigoso, a não dar a nossa resposta de revolta a cada "Preto de merda" saído da boca da ignorância que continuam a chamar de Racismo”, acrescentou.
“O que tenho assistido estes dias só me faz aperceber que o Sonho tão desejado de MLK, ainda é uma Utopia para todos nós”, conclui Dino D’Santiago, fazendo referência às notícias sobre a violência policial no Bairro da Jamaica, no Seixal, que deram origem a momentos de tensão na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Na mesma noite, foram registados problemas na esquadra do bairro da Bela Vista, em Setúbal, e carros incendiados na Póvoa de Santo Adrião e Odivelas.