É possível recuperar um ambiente de maior proximidade, afeto e cortesia nos hospitais? O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra acredita que sim e apresenta esta quinta-feira o projeto H2 – Humanizar o hospital. Ao longo dos próximos cinco anos, a estratégia passa por lançar inquéritos de satisfação a doentes e funcionários, identificar áreas em que seja preciso intervir e preparar ações de formação sobre comunicação e relacionamento interpessoal. Um dos projetos a curto prazo aponta noutro sentido: melhorar o ambiente e as condições de trabalho da própria instituição, com um programa de sensibilização para diminuir o ruído hospitalar. Terá a colaboração da Secção de Acústica e Vibrações do ITeCons – Universidade de Coimbra.
As medidas e o diagnóstico da situação constam de um memorando da iniciativa, elaborado no final do ano passado. De acordo com o documento, a que o i teve acesso, o projeto surge numa altura em que o hospital reconhece que existem diferentes sinais a suscitar preocupação. “Sinais de instabilidade emocional, de desânimo, de frustração, de incapacidade, de desmotivação e de esgotamento dos profissionais, são cada vez mais visíveis e preocupantes. O aumento do número de processos disciplinares a funcionários é alarmante. O descontentamento dos próprios doentes é cada vez mais sentido e tem tradução objetiva no aumento crescente do número de reclamações que chegam ao Gabinete do Utente e no número de processos judiciais contra o Hospital”, lê-se no memorando. “Este estado de coisas não pode ser ignorado. Torna-se necessário intervir rapidamente, de modo a diagnosticar causas, procurar soluções e aplicar eficazes medidas terapêuticas.”
A humanização não pode prescindir da competência, assim como da capacidade de comunicação, da cortesia e do carinho. Afetividade e competência têm de estar em estreita relação”
O desafio está longe de ser exclusivo deste centro hospitalar. No enquadramento, os responsáveis sublinham que o progresso cientifico e técnico das últimas décadas tem tido reflexos importantes na prática de medicina, mas isso faz com que esta esteja progressivamente a afastar-se da sua forma tradicional, “assente na participação humana, para se basear em ações de natureza cada vez mais tecnológica.”
A este cenário juntam-se os problemas colocados pelas restrições financeiras, “com consequentes limitações na alocação dos recursos humanos e materiais necessários para se desenvolver uma atividade assistencial eficaz e humanizada.” Mas os responsáveis pela iniciativa entendem que a falta de formação na área do relacionamento interpessoal é outro aspeto a ter em conta. “Nem só o predomínio da tecnologia e as limitações financeiras constituem dificuldades à humanização dos cuidados de saúde. Também as dificuldades individuais de relacionamento interpessoal, de capacidade de comunicação, de criação de empatia, são muitas vezes, por si só, limitações importantes à prestação dos cuidados (físicos e emocionais) que devem ser prestados a cada pessoa doente. Em relação a este aspeto é notória a carência de formação que se observa nas profissões ligadas à saúde, e que se estende desde os tempos da formação académica até aos do exercício profissional”.
A preocupação final é melhor a qualidade dos cuidados de saúde prestados no hospital. “Para que tal se verifique terá de ser priorizada a atenção na competência profissional, nas relações pessoais entre profissionais e doentes, nas relações entre os próprios profissionais, e nas relações entre o hospital e a sociedade. A humanização não pode prescindir da competência, assim como da capacidade de comunicação, da cortesia e do carinho. Afetividade e competência têm de estar em estreita relação.”