As telecomunicações são hoje, muitas vezes, consideradas como um bem essencial de sobrevivência de qualquer pessoa, tal como é a água ou a luz. As comunicações móveis foram talvez o grande acelerador de negócio nesta indústria, tendo beneficiado da integração da internet, já neste século, para transformar de forma disruptiva a grande maioria do mercado empresarial e social. A produtividade que aumentou bastante com a introdução de tecnologias, escala ainda mais, e por vezes de forma exponencial, se alterarmos os processos introduzindo a agilidade da mobilidade de informação.
De facto, o mundo está atualmente dependente, quase na sua totalidade, das telecomunicações. E não prevejo alterações a este nível.
Quando analisamos a evolução dos operadores de telecomunicações, verifica-se que eram reconhecidos como empresas de liderança tecnológica e vistos como capazes de criar disrupções em vários mercados, criando vantagens competitivas a quem melhor usasse os seus serviços.
Os próprios operadores de telecomunicações foram crescendo a sua atividade a um ritmo avassalador, e facilitado por uma adoção acima do esperado pelos seus clientes. Conseguiram obter verdadeiros ‘cash cow’, porque as pessoas adoram comunicar, falar ao telemóvel, enviar mensagens, enviar vídeos, etc. Com a ambição de continuar a crescer, alargaram a sua oferta para o serviço de televisão em casa, para o serviço de internet móvel nos PCs, para serviços de conteúdos, etc.
Mas… o seu toque de Midas está-se a esboroar de há alguns anos para cá. As receitas dos seus serviços de valor acrescentado, assentes nas comunicações de voz, dados e conteúdos, está a desaparecer drasticamente pelo efeito de indústrias OTT – over the top, empurrando novamente os operadores para o seu negócio básico inicial, o de ser operador de infraestruturas de comunicações, mas onde as margens atuais deste negócio, por efeitos concorrenciais, são muito mais baixas.
Hoje, quantas chamadas fazem ou sms são enviadas pela geração millenials? Usam preferencialmente os serviços Skype, WhatsApp, Instagram, Facebook, Telegram. Quanto geram de receita os operadores de telecomunicações aqui? Nada ou quase nada, tendo em atenção que já nem os seus serviços de dados são usados, com a maior amplitude de redes wifi.
Quantos millenials e geração Z esperam para ver o programa que vai dar na televisão às 21h? Nenhum. Usam Netflix ou Youtube. Onde estão as receitas dos operadores de telecomunicações, que se aventuraram nos serviços de conteúdos na televisão em casa ou no telemóvel? Não estão!
E é aqui que está o cerne da questão. Os operadores de telecomunicações estão a ser empurrados, por empresas que só nasceram porque os operadores de telecomunicações existem, novamente a ser empresas de infraestruturas, baixando o seu grau de intervenção em serviços de valor acrescentado. Isto é, a vida do ‘back to basics’ não é fácil para quem se habituou a ter estatuto e ser o centro das atenções do mercado. Quem souber readaptar-se e voltar a inovar, mas em serviços de infraestruturas, ganhará uma nova vida. Aqueles operadores de telecomunicações que querem continuar a investir em serviços OTT contra os grandes mundiais, ou os pequenos que são muito mais ágeis, que nascem todos os dias e não têm as suas gorduras, estarão muito provavelmente destinados ao fracasso.
Há muito negócio ainda por explorar nas infraestruturas. Há muito serviço base a dar aos vários mercados. Os operadores de telecomunicações que não queiram ser operadores de telecomunicações e queiram ser outra coisa qualquer… estar-se-ão a enganar a si e aos seus acionistas.
*Executive Director
LISS – Universidade Lusófona Information Systems School