Bloco de Esquerda diz que habitantes do Bairro da Jamaica são vítimas de “discriminação dupla”

Mais de uma centena de manifestantes protestaram esta sexta-feira contra o racismo e a discriminação económica por parte das autoridades policiais

A Câmara Municipal do Seixal foi o palco da luta contra o racismo e a violência policial na tarde de ontem. Cerca de 150 pessoas reuniram-se para lutar não só contra a discriminação racial mas também contra a diferença de tratamento das diferentes classes económicas. Apesar de ser uma manifestação pacífica, e tendo em conta os últimos episódios de violência, no local estava um forte dispositivo policial.

Enquanto ouvia os discursos, Lima Silva, de 36 anos, recorda o dia em que foi ele a "vítima vítima de violência policial". "Só porque perguntei o porquê de me estarem a revistar. A resposta que me deram foi: porque nós mandamos, porque somos a policia". Também Francisco Raposo, de 59 anos, contou ao SOL que assistiu a situações discriminatórias no Bairro da Cova da Moura, onde morou durante seis anos. "Presenciei várias rusgas na altura em que os trabalhadores recebiam os ordenados. Diziam que era dinheiro de tráfico de droga", recorda. Para Raposo, estes casos "refletem uma prática das forças de segurança discriminatória em relação aos africanos e luso africanos mas também o acirrar de uma divisão entre os trabalhadores brancos e negros".

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Para Miguel Santos, de 25 anos, a questão não é só racial, é também financeira. Advogado de profissão, Santos acredita que "a policia age de uma forma diferente para indivíduos não brancos trabalhadores e para indivíduos não brancos de classes mais elevadas". "A função da polícia é representar uma norma e está a representar um papel que é reprimir aqueles que são vítimas de racismo institucional" reforçando que "casos isolados que acontecem demasiadas vezes não podem ser considerados isolados".

Já o Bloco de Esquerda, fortemente representado no protesto, defende que "aquilo que se passou nos últimos dias foram focos de violência que mostram que a sociedade é racista", disse ao SOL, Sandra Cunha, deputada na Assembleia da República, reforçando que quando se junta à condição financeira – neste caso concreto dos habitantes do Bairro da Jamaica – "a cor da pele, a discriminação é dupla"