O Reino Unido está obrigado a sair da União Europeia com um acordo e o próximo passo do governo britânico será a reabertura das negociações sobre a salvaguarda da fronteira entre a Irlanda do Norte e o resto da Irlanda. Uma emenda à moção apresentada pela primeira-ministra britânica, Theresa May, que rejeitava um cenário de saída sem acordo, foi aprovada pela Câmara dos Comuns – 318 votos a favor 310 contra. Uma outra emenda, proposta pelo deputado Graham Brady, que estipulava que a salvaguarda deveria ser “substituída por soluções alternativas para se evitar uma fronteira rígida”, foi aprovada – 301 contra 217 votos. Pouco depois, os deputados aprovaram por aclamação a moção de May, dando-lhe o mandato para avançar com a reabertura das negociações com a UE. Mas Bruxelas não quer renegociar o acordo.
Em reação às votações, May garantiu ter agora o apoio necessário entre os deputados para que um acordo para o Brexit seja aprovado na Câmara dos Comuns, acrescentando que do outro lado do Canal da Mancha existe “pouco apetite” para se alterar o acordo. Os deputados trabalhistas e democratas liberais acusaram May de estar a seguir uma fantasia.
Soube-se ontem à tarde que caso a emenda de Brady fosse aprovada, Bruxelas afastaria qualquer cenário de reabertura das negociações. “A UE27 e a Comissão já prepararam uma reação em caso de a emenda de Brady seja aprovada este final de tarde [ontem] a dizer que não irão renegociar o acordo de saída”, disse uma fonte em Bruxelas à Bloomberg. Outra fonte na capital europeia confirmou a mesma informação ao “Guardian”.
Antes desta informação ser pública, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já tinha avisado a líder britânica, via conversa por telefone, que Bruxelas não irá ceder na recusa em renegociar. Ou seja, May foi mandatada para negociar, podendo arranjar soluções alternativas à salvaguarda, mas Bruxelas não cede. E se a UE não quer negociar, o Reino Unido terá agora de sair com o acordo negociado rotundamente rejeitado pelo parlamento por não poder sair do projeto europeu sem acordo. May perdeu margem de manobra nas negociações.
Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, foi célere a reagir dizendo que o “acordo de saída é e continua a ser o melhor e único caminho para garantir uma saída ordenada do Reino Unido da União Europeia”, apelando ainda para que Londres “clarifique as suas intenções sobre os próximos passos”. No entanto, e sem dar grandes pormenores, Tusk garante que se as “intenções do Reino Unido para uma possível relação evoluíssem, a UE estaria preparada para reconsiderar a sua oferta e reajustar o conteúdo e o nível de ambição da sua declaração política”.