De repente, surgem como se nunca ninguém tivesse pensado nisso, como se as traquibérnias fizessem parte do mais natural da vida e como se o povo gostasse de ser enganado.
A verdade é que o não são como não são território virgem da contradita.
Eu sei que a atenção tem recaído sobre os políticos e as suas aventuras ou desventuras. Têm, apesar de tudo, um poder limitado. São vulneráveis.
Uma outra nata de cidadãos foi, ao longo do tempo, arvorada em gestores públicos e privados. São, apesar de tudo, mais poderosos.
Correm de lugar em lugar. Administram bem, ou mal, ou assim assim, e passam sempre pelos pingos da chuva.
Deixemos de lado as empresas privadas que, através dos seus detentores, têm o dever de zelar pela avaliação do seu desempenho. Ou, pelo menos, aquelas que não representam perigo para o erário público.
Já o caso é mais relevante quando tratamos de bancos e quando atos vulgares de gestão, de concessão de crédito, ou outros, produzem efeitos no povo pagante.
Há um mundo de exemplos do que nos custou, a todos, muito caro.
Com crise ou sem crise, milhares de milhões foram pelo cano abaixo e nem os credores encontraram forma de repor as perdas nem os portugueses conseguiram ver-se livres de se lhes substituir assumindo a responsabilidade do dinheiro perdido.
Uma empresa privada mal gerida contraía dívidas impagáveis, os gestores bancários olhavam para o lado e consentiam, quando não promoviam, fugindo à responsabilidade e protegidos pela impunidade.
No geral eram considerados e premiados e mantinham a aura da proficiência profissional.
Bem remunerados, claro, porque a vida custa a todos e mais a alguns.
Mas o quadro fica muito mais negro quando prestamos atenção às empresas públicas em particular e, mais concretamente, à Banca pública.
Aqui, o Estado manteve, ao longo do tempo, uma especialíssima responsabilidade, não só de nomeação dos gestores, mas da sua escolha com critérios políticos. Assim se confundiram os políticos com os gestores públicos.
Uma desgraça nunca vem só, diriam os mal dizentes.
E o cúmulo da perversão foi o recurso a atos pontuais ou programas vastos de condicionamento das intervenções.
Do mais obscuro curriculum se fabricaram gestores. Um esforçado eletricista ou um modesto caixeiro encontraram o caminho para a administração bancária, um cidadão, incompetente em qualquer administração por onde passou, subiu ao teto do mundo. O ‘american dream’ em versão doméstica.
Com gente desta disponível foi fácil atacar o objetivo de confundir os tipos de interesse e repartir os interesses pelos tipos.
Tudo prometia o melhor quando, eis senão quando, a crise, ou o estado das finanças públicas, ou algumas investigações judiciais tornaram impossível a distração ou o esquecimento.
Hoje, pode dizer-se não haver cão nem gato que não queira saber quem decidiu em desfavor de todos, quem apoiou a decisão, qual o seu fundamento e razão de ser, qual a responsabilidade de quem o permitiu.
Pagamos, sim, mas o nosso ressentimento e a nossa dignidade são mais fortes.
Queremos abrir a caixa.