Nas próximas duas semanas irei debruçar-me sobre os dois campeões do Open da Austrália, os mesmos que há cinco meses triunfaram também no US Open: Naomi Osaka e Novak Djokovic.
Começo pelo sérvio de 31 anos por ter ficado maravilhado pela mais elevada qualidade de ténis que alguma vez vi. Durante a final pensei que o famoso ‘Cosmic Tennis’ que ele já tinha mostrado em 2011 estava de volta, mas depois fui percebendo que o nível era ainda superior.
O próprio n.º 1 mundial admitiu que as meias-finais e a final foram o seu melhor ténis de sempre.
Dois dias depois o jornal L’Équipe publicou o título: Djokosmic – o regresso.
E o ex-tricampeão do Open da Austrália, Mats Wilander, proclamou: «Ele está a outro nível, é de outro planeta. Federer já tinha dado essa impressão, mas na altura parecia-nos ser especial. Com o Novak dir-se-ia ser normal e isso é assustador».
Os fãs de ‘King Roger’ vão sentir-se feridos mas mesmo no auge do seu domínio o suíço tinha uma fragilidade massacrada por Nadal: as bolas com ‘heavy spin’ sobre a sua esquerda a uma mão. Só muito mais tarde, em 2017, Federer resolveu o enigma.
O mais assustador no Djokovic em Melbourne foi a sua sufocante agressividade, logo a partir do serviço, da resposta e da primeira pancada ao fundo do court, sem que esse aparente risco resultasse em erros.
Na meia-final com Lucas Pouille fez 24 ‘winners’ e irrisórios 5 erros diretos e na final com Rafa Nadal somou 34 ‘winners’ para escassas 9 faltas não provocadas. Roçou a perfeição e é aqui que o seu ténis é superior ao de 2011 ou de 2016.
Não defendo que ‘Djoko’ seja já o melhor tenista de sempre. Por enquanto esse estatuto ainda pertence a Federer e, quiçá, Rod Laver, embora tanto Nadal como Djokovic tenham legítimas aspirações a serem considerados o GOAT (‘Greatest Of All Time’).
Refiro-me sim ao nível de ténis exibido. Como é natural, vai melhorando com o tempo. Não se joga hoje como no final do século XIX. Não quer dizer que os campeões de outrora sejam menores na história da modalidade. Tudo tem o seu contexto.
Aliás, a lição que nos deixa o BIG Four há quase 20 anos é que Federer, Nadal, Djokovic e Murray terminarão as suas carreiras como executantes mais completos do que no auge das suas dominações. Foram sempre progredindo.
Claro Federer no seu melhor exala o estilo mais estético, mais belo de sempre, mas tem algo de divino, de inalcançável. Djokovic, pelo contrário, atinge uma perfeição terrena. Mostra-nos, como Camões nos Lusíadas, que também no ténis os homens podem superar os deuses.