Os alertas para as transformações a nível climático são vários e surgem com um tom cada vez mais urgente, principalmente quando chegam acompanhados de notícias sobre grandes desastres naturais ou até de temperaturas extremas registadas em determinados locais. As consequências são pesadas a todos os níveis e impera a necessidade de divulgar um cenário que tem estado a piorar nos últimos anos. Um dos exemplos mais recentes é a vaga de frio extremo nos EUA que já fez vários mortos [ver págs 52-53]. Todos os acontecimentos deste género têm custos a nível humano e também económico porque os prejuízos têm vindo a agravar-se.
Ao longo do ano passado, tanto as catástrofes naturais como todos os desastres que foram causados por mão humana tiveram um grande peso na economia mundial. Um estudo da Swiss Re alertava, no final de 2018, que o impacto económico negativo de vários fenómenos desta natureza tinha sido na ordem dos 136,4 mil milhões de euros. As seguradoras acabaram por assumir uma fatura de 69,5 mil milhões de euros. Ou seja, 51% do total.
Agora, um outro relatório a que o SOL teve acesso mostra que o peso destas catástrofes é bem superior ao que tinha sido estimado no final do ano passado pela Swiss Re. As cercas de 389 catástrofes naturais ocorridas em 2018 culminaram afinal num prejuízo económico superior ao que estava estimado e que se fixa agora em cerca de 224 mil milhões de dólares (196 mil milhões de euros). Os dados fazem parte do relatório anual Weather, Climate & Catastrophe Insight, da autoria da Aon – organização de consultoria na gestão de riscos.
Entre as principais conclusões desta análise estão números que preocupam cada vez mais os especialistas, que pretendem alertar para a urgência de inverter a tendência. «Dos prejuízos totais identificados, 90 mil milhões de dólares foram cobertos por programas de seguros do setor privado e pelos Governos, o quarto valor mais alto já registado».
Andy Marcell, CEO da Aon Reinsurance Solutions, explica que «2018 foi outro ano ativo em desastres naturais. Embora não tenha havido um evento singular de ‘mega’ catástrofe, registaram-se eventos com perdas de 43 mil milhões de dólares, ligeiramente acima da média anual. A indústria de (re)seguros continua a suportar a maior parte dos custos com 605 mil milhões de dólares de capital».
O relatório evidencia ainda que na lista dos desastres naturais que mais prejuízos causaram estão os ciclones tropicais e as tempestades. «Nesta categoria, incluem-se o furacão Michael e o furacão Florence (EUA), o tufão Jebi e o tufão Trami (Japão), o tufão Mangkhut (Filipinas, Hong Kong, China) e o tufão Rumbia (China). Como consequência, 2017 e 2018 foram os anos consecutivos mais caros já registados, tanto por perdas económicas (653 mil milhões de dólares), exclusivamente devido a eventos relacionados com o clima, como por perdas seguradas (238 mil milhões de dólares)».
É inegável que a economia treme com alterações climáticas, que têm impacto de diversas formas. De acordo com as contas feitas pela Comissão Europeia, em março do ano passado, só contando com o impacto de inundações, podia dizer-se que os prejuízos económicos diretos chegaram aos 90 mil milhões de euros nos últimos anos. Tendo por base os diversos setores de atividade é visível que a agricultura, os seguros e o turismo são os mais afetados.
Leslie em Portugal
Se abandonarmos o contexto geral e olharmos para Portugal, o cenário não deixa de ser preocupante. Muito pelo contrário, porque, «em Portugal, a Aon estima que o furacão Leslie tenha causado prejuízos económicos superiores a 100 milhões de euros, dos quais 87 milhões de euros dizem respeito a prejuízos seguros».
A análise mostra ainda que os dados recentemente atualizados dão conta que a maior parte dos prejuízos decorrentes desta catástrofe natural refere-se a seguros de atividades comerciais e industriais, «com um total de 36 milhões de euros (uma média de 3.3 milhões de euros por sinistro)».
Um estudo, publicado em outubro, sobre o impacto dos eventos climáticos e a realidade portuguesa revelava que o cálculo, que peca por defeito, ultrapassava já os 1 300 milhões de euros. Parte do diagnóstico foi feito pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), no arranque do Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas. No geral, as estimativas apontavam para um custo com incêndios florestais, por exemplo, que atingia os 100 milhões de euros anuais. Neste valor não estão contemplados situações trágicas como as de 2017: com aproximadamente 500 milhões associados aos fogos de junho e mais 200 milhões apurados pelas seguradoras nos incêndios de outubro. No entanto, a estes valores somam-se os custos associados à seca que afetou o país. De acordo com a APA, em 2005, por exemplo, os prejuízos chegaram aos 290 milhões de euros. Já em 2012, a fatura com a seca tinha sido muito pesada: mais de 200 milhões de euros. Com os balanços do anos anteriores fechados, preocupa o que está para vir. O ano mal começou e Portugal, por exemplo, já está sob ameaça da depressão Helena, que colocou o país em alerta vermelho.