Naomi Osaka. Discrição e serenidade na escalada até ao topo

A nova líder do ranking mundial de ténis nasceu no Japão, mas mudou-se para os EUA com apenas três anos. Após fazer história na Austrália confessou que ‘ia dormir’ ou ‘talvez jogar videojogos’. Reservada, sensata e de sangue-frio, a tenista de 21 anos veio para ficar. E já ninguém duvida disso.

Naomi Osaka. Discrição e serenidade na escalada até ao topo

Filha de uma relação proibida, nasceu no Japão, mas cedo se mudou para os Estados Unidos. Aos 21 anos, Naomi Osaka atingiu o patamar mais alto que uma tenista ambiciona, mas, em entrevistas, confessou que «não se lembrava de gostar de bater numa bola». Ninguém diria, mas, afinal, esta foi mesmo uma história escrita pelo pai na maioria dos capítulos. Filha de pai haitiano e mãe japonesa, a vida de Osaka, é precisamente marcada por esta relação inter-racial. Foi na terra do sol nascente que Leonard Francois e Tamaki Osaka cruzaram caminho. Ela estudante e ele de passagem, com residência em Nova Iorque. A distância não era suficiente para demover o sentimento, que permaneceu em segredo. Tudo por causa da cor da pele de Francois. Num Japão que não permitia fugas aos costumes e tradições, Tamaki sabia que o seu companheiro iria ser rejeitado no seio da sua família. A revelação só foi feita no dia em que começou a ser confrontada com o miai, conhecido método nipónico para definir os tradicionais casamentos arranjados. A boa nova não foi, como já era esperado, bem aceite na família materna de Naomi, que chegou a afirmar que Tamaki os tinha desonrado. Sem apoio, o jovem casal mudou-se de malas e bagagens para Osaka, cidade nipónica que viu a tenista nascer e com a qual partilha nome. Seguiu-se mais uma década sem haver contacto com os avós do lado da mãe.

Foi em Osaka que Leonard e Tamaki tiveram as duas filhas, Mari, a mais velha, e Naomi, que têm uma diferença de 18 meses. E foi após o nascimento das duas meninas que Leonard Francois começou a traçar o seu sonho: umas novas irmãs Williams, mas em versão japonesa.

De maneira a levar o projeto a bom porto e de forma a encontrar um lar onde não fossem vítimas, pelo menos não de forma tão evidente, da discriminação, a família Osaka voltou a mudar de morada, desta feita para os Estados Unidos, Flórida, onde vivem atualmente. Sem nunca ter praticado ténis e apesar do pouco contacto com a modalidade, Leonard Francois nunca abdicou da sua ideia. Longe de percorrerem um percurso tradicional de uma atleta, o pai optava sempre por colocar as irmãs Osaka em torneios com jogadoras mais velhas, mais fortes e, naturalmente, mais evoluídas. Um dos segredos, de resto, do atual sucesso da nipónica, que foi, em tempos, o elo mais fraco entre as irmãs Osaka.

Também à semelhança de Serena e Venus, Naomi e Mari já formaram dupla em pares. Em singulares, a tenista com mais sucesso de cada família acabou por ser aquela que menos se esperava de acordo com as capacidades demonstradas no período da adolescência. Mari, com 22 anos, também compete no circuito WTA, mas está longe de acompanhar o sucesso da irmã – ocupa atualmente o 335.º lugar no ranking WTA.

 

Escalada até ao topo

Com um currículo inexistente em torneios juniores, e com dupla nacionalidade por viver desde os três anos nos EUA, o pai de Naomi registou a jovem na Federação japonesa de ténis. Contudo, e apesar de representar o Japão, Naomi Osaka não fala a língua do país onde nasceu, algo que, aliás, já proporcionou vários momentos hilariantes em conferências de imprensa. Introvertida, sensata e de sangue-frio, a maturidade da tenista não demorou a colocá-la no centro das atenções. O serviço forte, a concentração no court (e a força mental) e as pancadas assertivas faziam crer que se estava perante uma jogadora com um grande potencial, mas, ainda assim, muito longe do que viria a acontecer. Em 2018, com apenas 20 anos, Naomi Osaka ganhou o US Open, o seu primeiro Grand Slam da carreira, e logo perante o seu ídolo de infância…
a norte-americana Serena Williams, que havia de manchar o feito da asiática com uma discussão acesa com o árbitro português Carlos Ramos.

Cinco meses depois, a nipónica volta a dar que falar, desta feita em Melbourne. O resto da história é bem conhecida: na final do Open da Austrália, Osaka bateu a checa Petra Kvitova, venceu o segundo Major da sua curta carreira e tornou-se na primeira tenista asiática a assumir a liderança do ranking mundial de ténis. A juntar aos dois principais títulos, Osaka conta no currículo
com a vitória no torneio de Indian Wells, conquistada no início de 2018.

Após o novo triunfo, a sucessora da romena Simona Halep agradeceu o apoio dos seus fãs antes de se esquecer do resto do discurso. Igual a si própria, e após ser questionada sobre a forma como iria celebrar o triunfo, a jovem japonesa respondeu: «Vou dormir. Talvez jogar um videojogo». «Ainda não estou em mim. Talvez quando disser à minha irmã ‘Adivinha quem é a número um? Eu’. Por agora, só estou contente por ter ganho este troféu», continuou.

Antissocial desde que se conhece, os videojogos são um dos programas de eleição da nova número um mundial. No que à música diz respeito já revelou gostar de Beyoncé, tendo por hábito assistir aos seus concertos com a sua irmã. Já no cinema, revelou, há espaço para uma paixão platónica pelo ator norte-americano Michael B. Jordan, que protagonizou filmes como a Pantera Negra, Creed e o Quarteto Fantástico.