A história de Joana, morta pela mãe e pelo tio, que chocou o país em 2004

Tio terá confessado que deu os restos mortais da menina aos porcos

Joana Cipriano tinha 8 anos quando desapareceu sem deixar rasto a 12 de setembro de 2004, a mãe, Leonor Cipriano, chegou a pedir ajuda para encontrar a filha na comunicação social. Mas mais tarde viria a ser condenada pelo seu homicídio, num caso que chocou o país na altura.

A versão apresentada por Leonor Cipriano, que saiu esta quinta-feira em liberdade condicional, e pelo seu irmão, também condenado pelo mesmo crime, era de que a menina tinha ido às compras ao café da aldeia e que não tinha regressado.

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No fim de setembro de 2004, mês em que Joana desapareceu, Leonor Cipriano viria a ser detida como principal suspeita do homicídio da filha, cujo corpo nunca foi recuperado.

Mais de um ano depois, em novembro de 2005, a mãe e o tio de Joana seriam condenados a 20 anos e 4 meses e a 19 anos e 2 meses respetivamente, sendo que as penas foram depois reduzidas para 16 anos e 8 meses em 2008, pelo Supremo Tribunal de Justiça, numa decisão que não foi consensual. Dois dos juízes conselheiros responsáveis por aquele caso defendiam mesmo a absolvição de Leonor Cipriano.

O tribunal deu como provado que Joana tinha sido brutalmente agredida pela mãe e pelo tio, depois de ter voltado a casa com as compras, que tinha ido fazer a pedido de Leonor Cipriano.

Apesar de o corpo de Joana nunca ter sido encontrado, o acórdão, citado pelo Diário de Notícias, revela que o tribunal reconhece que Leonor e João “agiram com plena consciência das consequências dos seus atos ao espancarem violentamente a pequena Joana”, tendo usado a “sua força desproporcional relativamente à de uma criança de 8 anos”. No texto lê-se também o coletivo entendeu que os irmãos só pararam de bater na criança “quando a mataram, apesar de ela sangrar pelo nariz, boca e têmpora”.

Tio diz que deu restos mortais aos porcos

As circunstâncias que terão motivado as agressões nunca foram esclarecidas, embora o Ministério Público tenha avançado com uma tese na sua acusação original: a criança teria surpreendido a mãe e o tio a terem relações sexuais quando voltou das compras. A teoria, no entanto, não foi dada como provada.

Outra tese que surgiu na altura, aliás a defesa apresentada pelo advogado da mão de Joana, era de que Leonor Cipriano tinha entregado a filha ao irmão para este a vender. Mas nada ficou também provado.

Ambos os arguidos viriam a confessar o homicídio da menina. João Cipriano terá revelado que depois de matarem a criança, terão esquartejado o corpo e dado os restos mortais a comer aos porcos.

Já Leonor Cipriano, libertada esta manhã após ter cumprido cinco sextos da pena, garantiu que confessou o crime porque estava a ser agredida pelos inspetores da Polícia Judiciária.

Aliás, esta manhã, à saída da cadeia de Odemira, voltou a clamar inocência. “Fui condenada sem provas. Não matei a minha filha. Nunca lhe faria mal. Só confessei tudo porque fui agredida na PJ de Faro", disse.

As agressões que Leonor Cipriano continua a apontar como justificação para a sua confissão foram dadas como provadas, embora os agressores nunca tenham sido identificados.

O ex-coordenador do Departamento de Investigação Criminal da PJ de Portimão, Gonçalo Amaral, foi condenado a um ano e meio pelo crime de falsidade de depoimento, com pena suspensa por igual período. O inspetor António Nunes Cardoso foi condenado a dois anos e três meses por falsificação de documento, com pena suspensa por dois anos, sendo que os restantes arguidos, Leonel Marques, Paulo Pereira Cristóvão e Paulo Marques Bom, foram absolvidos.

O caso das agressões foi também o motivo de os mais sete meses de pena de prisão que Leonor Cipriano recebeu, por declarações contraditórias proferidas durante o julgamento dos cinco inspetores acusados de a agredirem.

"Quem lhe fez mal, por favor, devolvam-ma"

Presa desde 2005, Leonor Cipriano saiu hoje da cadeia em liberdade condicional, e as primeiras palavras foram para garantir estar inocente e para pedir a quem tem a Joana que a traga de volta.

"O que sempre disse é o que sempre vou dizer. Entrei nesta cadeia sem fazer mal à minha filha e vou dizer isto sempre até ao resto da minha vida, onde quer que ela esteja. Quem lhe fez mal, por favor, devolvam-ma. É o que eu tenho dizer", disse em declarações exclusivas à TVI. “Saiu e nunca mais regressou a casa. Se disserem que ela voltou a casa, é mentira", acrescentou.

Sobre o futuro, a mãe de Joana adiantou: "saio daqui com a minha cabeça erguida. Vou trabalhar, tenho um trabalhinho. É o que eu tenho a dizer, mais nada".