A jornada 21 do campeonato abre esta sexta-feira, e com um jogo que tem tudo para ser muito interessante. Cinco dias depois de ter tropeçado em Guimarães (0-0), e assim permitido a aproximação de Benfica e Braga, o campeão e líder FC Porto tem nova deslocação ao Minho. Pela frente terá agora a equipa sensação da liga: o Moreirense de Ivo Vieira, num extraordinário quinto lugar e a apenas cinco pontos do Sporting.
Onze vitórias, seis das quais em casa – bem como outra em pleno Estádio da Luz (1-3) -, são cartão de visita de uma equipa que ainda só perdeu duas vezes em Moreira de Cónegos: perante o Sporting, logo na primeira jornada, e frente ao Santa Clara, na ronda 12. Individualmente, Chiquinho tem sido o grande destaque, secundado por nomes como Heriberto Tavares, Pedro Nuno, Arsénio… ou Loum, que estava emprestado pelo Braga e no último dia do mercado de transferências se mudou precisamente para o FC Porto, mas muito do mérito da prova que o Moreirense tem vindo a fazer tem de ser atribuído ao timoneiro.
Aos 43 anos, Ivo Vieira está a viver a melhor temporada da carreira enquanto treinador principal. Seja no Nacional (2010/11 e 2011/12), no Marítimo (2014/15 e 2015/16) ou no Estoril (2017/18), nunca conseguiu ainda fazer uma temporada completa. Nos canarinhos, de resto, não conseguiu mesmo evitar a descida de divisão, depois de ter chegado a meio da época para o lugar de Pedro Emanuel.
O jogador que já não o era As boas indicações deixadas na Amoreira – onde ajudou ao salto de jogadores como Renan Ribeiro (hoje no Sporting), Aílton Silva (agora no Braga) ou Lucas Evangelista (transferido para o Nantes) -, todavia, não passaram despercebidas à direção do Moreirense, que decidiu apostar no treinador nascido em 1976 no Machico, na belíssima ilha da Madeira. Foi na Pérola do Atlântico, de resto, que cumpriu toda a carreira de jogador. Então apenas conhecido como Ivo, o central só vestiu a camisola de um clube enquanto sénior: o Nacional.
E foi precisamente no emblema da Choupana que partilhou balneário com Fernando Aguiar de 1995 a 1997, tendo festejado a subida à II Liga na segunda temporada. “Enquanto colega e jogador, foi sempre um bom profissional e já se notava uma postura mais para treinador que outra coisa qualquer”, conta ao i o antigo médio de Benfica e Beira-Mar, entre vários outros clubes nacionais.
Ivo, de resto, encerrou a carreira de jogador com apenas 28 anos, no fim da época 2003/04, passando desde logo a integrar a equipa técnica do Nacional. Um dado que não surpreende Fernando Aguiar. “Se calhar já tinha essa ambição de ser treinador. Não era um jogador do outro mundo – enquanto jogadores, todos conhecemos as nossas limitações -, e se calhar apercebeu-se disso, percebeu que podia ter mais sucesso como treinador e optou por essa via”, assume o antigo internacional canadiano, garantindo não estar minimamente surpreendido pelo sucesso do madeirense: “Há certos jogadores que jogaram comigo e hoje são treinadores e acho que não têm perfil para isso. Mas no caso do Ivo acho que sim: pelo discurso, nota-se bem que tem a equipa, os jogadores seguem-no. E isso é muito importante. É uma pessoa séria, tem uma equipa que gosta de atacar, uma equipa solta, e nota-se que os jogadores fazem tudo por ele. O Estoril dele era uma equipa muito ofensiva, que gostava de jogar, de ter a bola. Se calhar encontrou lá coisas que não podia resolver e isso ditou a descida, mas nota-se que no Moreirense está completamente à vontade e está a fazer um excelente trabalho.”
No entender de Fernando Aguiar (para sempre conhecido como Robocop, devido à compleição física e ao seu estilo de jogo), o facto de Ivo ter feito carreira profissional como jogador também o influencia positivamente no banco. “A experiência é importante, lidamos com vários treinadores e aprendemos um bocado com cada um – uns não tanto, outros mais. Os treinos, a postura, o lidar com o ser humano. E o Ivo tem isso tudo. Gosto bastante dos discursos dele, é um homem do futebol”, salienta, vendo no técnico do Moreirense “a mesma pessoa” com quem jogou há mais de 20 anos: “Ele parece um bocado sério e tem um bom discurso, mas também é brincalhão. Não falo regularmente com ele, mas se o vir dou-lhe um abraço. Dei-me sempre bem com ele, nunca tivemos conflitos, fomos sempre bons colegas e considero-o uma boa pessoa, não tenho quaisquer razões de queixa dele.”
Em 2006/07, Ivo Vieira integrou a equipa técnica de Carlos Brito na passagem do treinador portuense pelo Nacional. Ao i, Carlos Brito recorda “um profissional dedicado, que não estava ali por estar”. “Via-se que tinha conhecimento, opinava quando tinha de o fazer e claro que estabelecia bem a ligação com os jogadores porque era um homem da casa e alguns até tinham sido ainda seus colegas”, realça o técnico de 55 anos, considerando que o madeirense “está a gerir muito bem o que tem em mãos” nesta campanha ao comando do Moreirense.
Com um trabalho tão positivo – e a ter continuidade no que resta da época -, será que Ivo Vieira pode bater à porta de um “grande”? “Penso que sim. Tem qualidades para isso. Infelizmente o futebol está como está e temos sempre de pensar na questão financeira, por isso, se ele não for para um ‘grande’ ou para um bom campeonato, irá parar naqueles países onde se paga muito dinheiro: China, Arábias… E aí vamos perder um bom treinador nos bons campeonatos. Hoje em dia vejo treinadores muito mais fracos a ganhar muito dinheiro lá fora, portanto acho que o Ivo, se não treinar um grande, vai parar lá”, sentencia Fernando Aguiar.
Para já, o presente de Ivo é em Moreira de Cónegos. E o repto mais próximo é o de, esta noite, dar continuidade à grande campanha e bater o pé ao campeão.